: : Chevrolet Kadett 2.3 16v Aspirado : :

Clima ameno e de muita descontração nos boxes do Autódromo Internacional de Brasília. As pessoas conversam enquanto os carros aceleram na pista. Turbos, aspirados e originais pisam fundo durante uma das etapas do track day promovido pelo Distrito Racing. Leandro Sampaio coloca as luvas e encaixa o capacete para concentrar-se em seu mundo, em seu carro e no traçado da pista. Em meio a tanta velocidade, ainda é possível conversar. Ainda.


Durante a pré ignição é possível ouvir o zumbido da bomba de combustível Walbro preenchendo a linha e, eu sinceramente gostaria que fosse possível reproduzir o som aqui na revista, o sossego acaba quando a partida é dada. Imaginem-se numa sala cercado por quatro gorilas urrando no pé do seu ouvido e você terá a noção do que é o ronco do motor (originalmente bloco 2.2 de Blazer com um cabeçote C20XE 2.0 16v, herdado de um Vectra GSI) explorado até chegar aos 2.300 cm³ de deslocamento, com um cabeçote extensamente preparado, borboletas de admissão individuais e com escape direto saindo por debaixo da porta do passageiro. Isso na marcha lenta. Quando em aceleração plena e rasgando a reta dos boxes, o que se vê são mãos tapando os ouvidos e mulheres reclamando de dores de cabeça dado o barulho excessivo. Nós conhecemos como "sinfonia".


Para chegar até o estágio atual a caminhada não foi fácil. Leandro contou com a ajuda e contatos de alguns amigos para que seu projeto se tornasse realidade e a todos eles é muito grato. Apaixonado por automobilismo e assíduo participante de track days, ele começou a curtir a pista com seu carro de uso diário. Não convencido do risco de sofrer algum acidente com seu carro no final de semana e ter que ir trabalhar de ônibus na segunda-feira, decidiu comprar um carro que teria seu uso exclusivamente voltado para a pista. Com a ajuda dos amigos, encontrou a base perfeita para seu projeto na forma de um Chevrolet Kadett GL ano 1995. Originalmente equipado com o histórico motor 2.0 EFI, o hatch foi pra pista provar do que era capaz. Não surpreendeu, mas cumpriu seu papel. Algum tempo depois outro amigo liga e informa que um conhecido estava vendendo um motor completo que havia sido recordista na arrancada em Goiânia/GO na categoria Dianteira Original-DO. Tratava-se de um bloco de Blazer 2.2 com pistões de 89 mm (responsáveis por elevar a cilindrada) montado em conjunto com um cobiçado cabeçote C20XE. Acertado em um dinanômetro de bancada, este motor já rendeu saudáveis 255 cv de potência e 27 kgf/m de torque. Na Autotech Motorsport a substituição dos motores foi feita e adaptado o casamento com o câmbio F18, de relações curtas e que consegue extrair todo o potencial do motor.


A confiabilidade do conjunto vem por meio de pistões IASA e bielas Scat forjados, enquanto a lubrificação é responsabilidade da bomba de óleo do Vectra 2.4 16v que trabalha com 5 bars de pressão para minimizar os riscos de quebra. O cabeçote veio trabalhado com melhor fluxo, ângulos de válvulas e um aumento de taxa que agora comprime na ordem de 13:1 e queima álcool. O comando é um nervoso Samacar 310º com demais dados guardados em segredo. O volante do motor é em alumínio e foi aliviado, favorecendo a subida de giros. O coletor de admissão conta com quatro corpos da Jenvey que misturam ao ar o combustível enviado pela bomba de combustível externa da Walbro modelo GSL392. O combustível passa por um dosador herdado do Fiat Tempra Turbo e chega aos bicos Deka de 80 lbs. A ignição conta com velas NGK de Iridium, comandada por um módulo de injeção/ignição completo da MBE. O corte de giro foi programado para 7.500 rpm e ao chegar perto dessa rotação, o coletor de escapamento 4x2x1 direto com saída debaixo da porta do passageiro urra com muita disposição.




"Com o motor original 2.0 o meu melhor tempo de volta em Brasília tinha sido de 2 minutos e 41 segundos. Já no primeiro evento que todos os problemas estavam resolvidos (shakedown) consegui fazer o tempo de 2 minutos e 30 segundos. Foi ai que decidi transformar o carro definitivamente em um carro de corrida." - lembra Leandro.




A transmissão é dada pelo câmbio original F18, mas conta com uma embreagem composta por disco de seis pastilhas cerâmicas e um platô de 700 lbs. O diferencial foi herdado de um Kadett GSI, pois sua capacidade de distribuição de potência e torque entre as rodas dianteiras é muito melhor. Para conseguir passar todo o potencial do Kadett para o chão, Leandro apelou para o uso de pneus slicks Pirelli PZero de medidas 185/565 montados em leves rodas de alumínio da BMW de medidas 7,0x15". A suspensão conta com amortecedores preparados pela Fênix com 90% a mais de carga, sendo que o dianteiro possui regulagem de altura no prato da mola (coilover) e camber plate para facilitar os ajustes nos dias de pista. Para evitar deformações indesejadas, todas as buchas da suspensão foram substituídas por PU. A frenagem é garantida por discos de freio Powerbrakes prensados por pinças Wilwood Dynalite na dianteira e de Vectra na traseira. Tudo muito bem equilibrado.



"Arrancamos todo interior, fizemos a gaiola de segurança, cinto 4 pontas, retiramos toda a elétrica original e fizemos uma bem simplificada, instalamos novas pinças de freio com 4 pistões, tiramos os vidros e colocamos policarbonato, cortamos as portas... tudo para que pudéssemos retirar o máximo de peso possível." - diz Leandro

O interior foi completamente depenado, não sobrando sequer a estrutura interna das portas. Uma dieta pesada se seguiu com a total remoção de carpetes, forros, mantas, filtros e tudo mais que fosse desnecessário em um carro de pista. O painel foi simplificado com o uso de uma capa de fibra de carbono e um dash para agrupar apenas o tacômetro com shift ligth, manômetros de óleo, combustível, temperatura de água e um hallmeter da AEM. Apenas elementos básicos de monitoramento. A carroceria foi travada com uma gaiola interna de seis pontos feita nos padrões de homologação por Fernando Cordova. Volante, manopla de câmbio, bancos concha e cintos de segurança são da Sparco. No interior tão espartano, uma caixa central em acrílico agrupa os comandos elétricos de bomba de combustível, ignição, chave geral e iluminação geral.






"O resultado foi nítido na pista, já na estréia dessa nova configuração baixamos 4 segundos do nosso melhor tempo atingindo a marca de 2:26.303, passando a ser a carro tração dianteira aspirado mais rápido de todas as edições dos track days em Brasília." - comemora.








Os planos não acabaram. Leandro e seus preparadores já estão atrás de um novo blocante para melhorar, principalmente, as saídas de curva, onde o carro destraciona se não dosar o pé devido à brutalidade do motor. A dieta também continua e onde ainda for possível perder peso, sem afetar a estrutura do Kadett, pedaços serão retirados. Posteriormente a estética também terá seu devido cuidado: pintura completa do interior e uma nova cor para o exterior já estão nos planos.



Enquanto isso, fiquem com a sinfonia que exala do escape durante algumas voltas durante um dos trackdays de Brasília/DF. Observem o belo urro deste 2.3 16v cortando giro aos 7.500 rpm!


Grande abraço a todos!

Matéria postada originalmente no site da Revista SuperSpeed.

1 Acelera!!!:

  1. Rafa, descobri seu blog sem querer a uns 2 meses atrás e de lá pra cá acesso quase que diariamente para conferir as novidades e sempre me surpreendo com as matérias antigas que até então não havia lido. Me divirto com seus textos e seu modo de se expressar dá a sensação que estou dirigindo as maquinas que vc está relatando.
    Parabéns, grande abraço.
    Rodrigo de São Paulo
    P.S: O KADET É CHAPADÃO !!

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