::Volkswagen Brasilia 1600cc::

"E jura que todo homem precisa de um vício pra se manter vivo. Algo que corrompa e que não possa ser regenerado facilmente. Um purgatório opcional. Pra se sentir humano. Sentir que faz parte de alguma coisa como a Terra. Pra acreditar que tem algo sob os pés antes de desabar. Na verdade, não acredita em nada disso e só vive por aí porque não sabe desistir. Mas tenta. Sempre tentou." - Entre todas as coisas



Todos temos medos, anseios, coragens, fraquezas, ímpetos, bravuras e principalmente vários sonhos. Se fosse fácil, seria meta. Se fosse só desejo, seria vontade. Sendo sonho, é eterno. Quando Arthur Becker decidiu fazer da sua garagem de casa um laboratório de sensações, parentes e amigos devem ter pensado em culinária, psicologia, aromaterapia ou coisas do gênero, mas nunca que continuaria a ser uma garagem. Arthur é dono de três Volkswagens que, de maneiras completamente distintas, fazem com que seus caminhos sejam repletos de olhares. O primeiro a habitar a garagem foi um VW Golf GTI Mk3 impecavelmente conservado que recebe total atenção, cera e carinho. O segundo veio na forma de uma VW Parati personalizada nos moldes do RatLook, onde o visual desleixado e descuidado esconde um exímio trabalho de adaptação de peças e um "cuidado desleixado" para que cera e banhos não sejam tão frequentes. Essa recebe geralmente apenas carinho e atenção. Por fim, chegou à garagem uma representante de um dos movimentos mais agregadores de todos os existentes. Uma VW Brasilia vermelha em bom estado, que precisava de um dono atencioso, carinhoso e com algum tempo para dedicar sangue, suor e lágrimas para torná-la única. Uma autêntica representante da classe Old 'is Cool'.



O carro era do mecânico onde Arthur sempre leva seus carros para revisões. Ao encarar a Brasa, a paixão arrebatadora e certeira levou-o a abrir a carteira diversas vezes oferecendo propostas sempre negadas pelo antigo dono. O carro não chamava atenção de qualquer um, apenas a de Arthur. A carroceria desbotada, o interior judiado e a estrutura íntegra tornaram aquele carro ainda mais sedutor quando o ex-proprietário se apertou financeiramente e precisou vender o carro. Para o que ela era desejada estava ótimo! Um carro completamente íntegro e com motor revisado, que teria seu interior completamente refeito nos moldes de época e uma suspensão completamente nova e sem frescuras.



Valendo-se de experiências anteriores e muita disposição, Arthur enfiou a cara e a coragem na montagem, limpeza e restauração do interior e motor originais da VW Brasília. Neste meio tempo algumas peças foram adquiridas, possibilidades de montagem da suspensão foram estudadas, amizades foram conquistadas e tudo isso contribuiu muito para que desafios fossem superados. A receita era simples: Rodas, pneus baixos e chão, mas a manjada receita executada aos lotes em Fuscas deveria ser aplicada em uma carroceria completamente diferente e sem qualquer recorte na lataria para não macular a estrutura.

O visual californiano me influenciou no projeto da Brasília. A idéia era manter um visual limpo, com rodas importadas, de talas e medidas de pneus diferentes na dianteria e traseira, frente mais baixa que a traseira e quadro encurtado. Como em todos os carros que monto, gosto de colocar a mão na massa e na Brasília não foi diferente: da limpeza à suspensão e montagem das rodas fiz no melhor estilo “home made”.

Comecei o projeto com uma boa limpeza, alguns upgrades mecânicos e por fim a interna. A princípio parecia ser um projeto de fácil execução, até chegar na suspensão.




Como o meu objetivo era montar a Brasília, tive que encarar a suspensão pivot e sua exposição mais baixa do que o chassi. Marinheiro de primeira viagem, não sabia da diferença gritante entre a suspensão e chassis, a qual quase me fez desistir do projeto pois a idéia era andar bem baixo. Esse modelo de suspensão, tem sua fixação mais exposta que a suspensão de embuchamento usada nos Fuscas mais antigos, sendo que ela vira uma espécie de “muralha”, não admitindo tartarugas ou pequenos obstáculos na pista. Uma saída lógica era trocar a cabeça de porco e suspensão pelo modelo do Fusca antigo (parte do chassis onde é fixada a suspensão dianteira) mas acabei desistindo da loucura pois o chassis era integro. O jeito foi montar a suspensão da Brasília mesmo.

Para rebaixar de maneira confortável, importei mangas de eixo deslocadas Empi que abaixam o carro por volta de 3" mantendo o conforto original. Além das mangas, instalei catracas no quadro. O detalhe está na catraca inferior que foi deslocada em 90° para que o parafuso de regulagem ficasse acima do tubo, sem pegar no chão e por fim estragar. Na traseira apenas regulei o facão.


Com a idéia fixa do callook, o quadro deveria ser encurtado. Para minha infelicidade, descobri que essa suspensão é a pior para ser encurtada, pois o sistema de rolamentos dos eixos é na ponta. Em contra partida a carroceria da Brasília é larga o que dificultou ainda mais o encurtamento da suspensão. Por esse motivo é raro encontrar Brasília com o quadro encurtado, e as que existem, na sua maioria, são com o cofres totalmente modificados. Martelei a cabeça até que cheguei à idéia de cortar a suspensão pelo meio. Quando fiz esse corte, usei torres retrabalhadas como se fossem luvas vestidas nos tubos, antes de soldar e fechar o quadro. Com isso ganhei 5,5 cm de cada lado no encurtamento sem ter que sacrificar a lataria do cofre. Como boa parte do quadro fica aparente, decidi fazer o defeito virar qualidade e pintei a suspensão em uma cor forte, para que aparecesse mesmo. A Brasília esterça normalmente e roda sem problemas, com o quadro a 5 cm do chão, salvo as tartarugas ou algo na pista mais alto que o quadro.



Seguindo o design da Brasília, optei pelas rodas modelo Fuchs, que equipa os Porsche 911. Sempre me preocupei com proporção e na Brasília eu optei por aros na medida 15", com larguras de 4,5" na frente e 5,5" na traseira que casam bem com o carro, primando pela elegância ao invés do escândalo visual de rodas grandes... Os pneus são 155/60 15 na frente e 205/65 15 na traseira.

Finalizei a primeira etapa do projeto com um escapamento 4x1 e atualmente venho fazendo alguns upgrades em detalhes a medida que posso.

Há tempos não escrevo um texto exclusivo para o blog. Fazia textos para outros sites, revistas, emails, trabalhos, comentários e nunca um texto para o blog. "Em casa de ferreiro o espeto é de pau" diz a lenta e eu não consegui desvencilhar-me dela. Faltava tempo, inspiração, concentração, vontade... Manter o blog atualizado com fotos e postagens simples é relativamente fácil. Dar meia volta e retornar ao ponto que se abandonou é mais complicado. Foi preciso esperar e, consequentemente, fazê-los esperar.

Creio que mais de anos se passaram sem um texto unicamente feito para o blog que não falasse de Gorete, Gee, álcool ou coisa parecida e enfadonha. Confesso ter sido "salvo" por mais alguns amigos, destes que nunca se vê, nunca se fala, apenas se tecla.





Nas fotos do amigo Pedro Ruta Jr, da DG Works, a bela VW Brasília ganhou novos tons, nova graça e uma captura tão bela e dedicada quanto a preparação dedicada por Arthur.

VWs a ar trazem mais felicidade!

13 Acelera!!!:

  1. Saudades desses textos. Jalopnik não é o mesmo sem tu Rafa. Brasília linda, e queremos notícias da Gorete! Boa sorte meu nobre!

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  2. Show de bola!
    tenho acompanhado sempre o blog.. mto bom.

    um dia desses, quem sabe, mando uma ou outra foto do meu fusca pra vc ver se merece aparecer por aqui.
    abraço

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  3. Grande Rafa,

    Estava faltando mesmo os seus textos aqui no blog...ótimo post !!

    Ficou show a Brasilia, mas confesso que fiquei bem curioso de ver a parati.

    Abração,

    Roberto.

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  4. Obrigado Rafa pelas belas palavras, que enchem os olhos de qualquer um enquanto a barra de rolagem vai descendo. O Arthur tem o poder de colocar sentimentos e personalidade em seus carros. Ver essa Brasilia pessoalmente, é algo que mexe com os sentimentos de quem é apaixonado por esses 'amigos de metal e borracha'. Eles não falam, mas conseguem responder aos nossos sentimentos como ninguém. Muito obrigado, e mais uma vez, parabéns pelas belas palavras! Grande abraço!

    Pedro Ruta Jr. - DG Works

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    1. De quem é esse carro? Quem fez o serviço? Estou precisando tirar algumas dúvidas.

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  5. Tambem fiquei curioso pra ver a parati hehe
    Consegue algumas fotos?
    Valeu

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  6. Matéria e carro excelentes! Parabéns Rafa e Arthur!
    Acompanhei o projeto desta Brasilia pelo Facebook e o resultado ficou surpreendentemente bom!
    Apesar de já saber que as Fuchs ficariam perfeitas na Brasilia (vide aquela branca com interior vermelho, gringa...), mas do jeito que foi montada neste carro, ficou diferente e tão bonito quanto aquela gringa. Rodas menores = mais perto do chão.
    Mais uma vez, parabéns ao autor da matéria e ao dono do VW!
    Abs

    Pedro Lessa

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  7. Parabéns pelo post Rafa.
    Cada um de seus textos são inspiradores.
    Não importa se sobre seus carros eu não.
    Te admiro cada dia mais pela paixão que expressa em suas palavras.
    No aguardo de novas postagens.

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  8. Tesão esse projetinho, gosto dele desde o começo! Só não sou muito fã do volante branco... hehehe

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  9. Essa matéria só merece elogios!!!!!

    Primeiramente ao Arthur pelo ótimo trabalho feito na sua Brasília, ficou simplesmente perfeita!

    Ao Pedro Ruta Jr, parabéns pelas fotos, que nos mostraram o resultado de tanto empenho dedicado à essa jóia.

    E por último, mas não menos importante, ao Rafa, por nos escrever um texto muito bem detalhado sobre a história e a preparação dessa preciosidade.

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  10. Excelente texto, como é de seu costume!
    linda Brasília, inspiradora.

    Abraço

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  11. Se alguem puder me indicar como faço para erguer mais a brasilia...moro no interior e tenho problemas na estrada de chao. Agradeço de coraçao.
    Ludwig (santa leopoldina/es)

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  12. Peguei uma 74 agora, já estava me baseando no fusca pra encurtar 5cm e colar a cara no chão, mas pelo visto vai ser complicado kkkkk vamos que vamos, vou de tala 4 na frente e 8 traseira, em cima das 14" originais dela

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