Este é, possivelmente, (um dos) dias mais loucos da minha vida. A correria do dia de hoje não me permite muitas palavras, mas a sensação de euforia, ansiedade e felicidade dentro do peito é algo difícil de guardar. Se depois desta postagem, mais nenhuma for ao ar e eu desaparecer das redes sociais, a culpada é a minha patroa. É... pode ser que ela me mate.
Quando um projeto desenvolveu-se a
quatro mãos, duas cabeças, duas carteiras e duas esposas furiosas já foi o suficiente para angariar olhares de reprovação do mais loucos por carros dentro da família, imaginem abraçar um projeto sozinho tendo zilhões de outras "prioridades" sendo listadas pelos outros antes de qualquer feito em benefício próprio, para "seu bel prazer e comodismo"?! É bem fácil falar quando se está de fora, não se vive de caronas, não é preciso dividir o carro com ninguém e ele serve a você, apenas a você! Acabo de atingir minha independência automotiva (novamente). E sim, talvez ela me mate.
Maldito cupido. Qual a parte do nosso trato de onde "eu não posso mais me apaixonar" você não entendeu, seu imbecil??? Logo agora que quase tudo ia tão próximo do fim... Mas nããããoo... o senhor e suas malditas flechas de coraçãozinho cheias de amor e paixão! Qualquer hora dessas enfio uma dessas no teu cú! Porra! Eu não podia me apaixonar!!!
O problema é que no coração a gente não manda nem para o mal e nem para o bem, e pra fuder de vez com nossa vida (e nossa conta bancária), ainda vem um filho da puta dum cupido para lascar de vez com tudo e amigos para apoiar uma idéia insana. Ela vai querer me matar!!!
Possivelmente neste parágrafo você já se cansou de ler baboseiras e desceu a página para procurar fotos e saber logo do que se trata, mas não seja preguiçoso (afinal, não é um post com fotos). Leia! Não sou bom exemplo para ninguém (nem sei quantas vezes já falei isso por aqui), mas esta é uma boa história de como coisas boas podem acontecer com quem se mantém de pé, mesmo quando a corda da vida bambeia e aquele vento-norte tenta te derrubar. Como disse, não sou bom exemplo para ninguém, mas meus pais sempre me ensinaram coisas boas e a correção de um caminho tortuoso sempre foi regulada na base do cinto de couro e chinela de borracha, daquelas que estampa o lombo e a bunda fosse um outdoor para propaganda das Havaianas. Obrigado pelas surras, pai e mãe! Vocês poderiam ter batido um pouco mais que eu agradeceria. A dor física nunca foi nada comparada aos olhares de decepção que eram despejados sobre mim quando eu pisava em falso. Desapontar vocês sempre foi minha maior pena. Isso me ensinou a ser responsável, a honrar minha palavra mais do que a qualquer outra coisa, a respeitar o próximo e ser grato pelos ensinamentos. Ainda assim, eu acho que ela vai me matar.
Não é a primeira vez que minha palavra, a palavra de um desconhecido, vale mais do que qualquer pedaço de papel assinado com um monte de números e cifrões. Já havia acontecido com peças pequenas para a Gorete quando o amigo Robson Scheiwe adiantou a compra de um volante Pluma para mim, quando comprei a manopla de câmbio Flat4 com o Felipe Sata e ele mandou o velocimetro de brinde, quando o amigo Digus me deu um par de manômetros, quando o amigo Angelo me ajudou a trazer peças essenciais para a suspensão dela da gringa, ou mesmo com a inesquecível ajuda (e presentes) do Plautos e galera do RustedLive que deram um jeito de fazer o quadro da Gambi Suspensões chegar até Brasília, ou do Rafa me mandando fotos, textos e presentes relacionados com os aircooleds, sem me esquecer do amigo Rodrigo Garcia e seus faróis Lucas e retrovisores de Porsche 356, além de cada um de vocês que acompanha e torcem para ver aquele Fusca rodando, nem que seja para me fazer passar mais raiva! Não foram poucas vezes que isso aconteceu, mas nada comparado com o que aconteceu nesta semana. Apesar do grandioso ato de confiança e bondade do amigo Wellington, é bem provavel que ela (a patroa) me mate.
Conversamos por cerca de uma hora sobre tudo o que estava escrito, as prioridades, as possibilidades, os prós, os contras e enquanto meu pai tentava me arranjar uma razão sensata para que o negócio não fosse fechado, eu falei como acertariamos tudo e um silêncio dilascerador tomou conta do ambiente. Uma profunda expirada de desistência das palavras ditas e o veredito: "Desse jeito fica complicado opinar!" Mesmo com o aval do pai, a desaprovação da mãe (ela ODEIA carro com mais de 4 anos de uso), apoio do irmão e um possível assassinato da patroa (outra aque não gosta de carros "velhos"), era inútil tentar negar que era uma ótima oportunidade de pegar um semi-clássico, bem cuidado, de procedência e o melhor: Andando (Na Gorete lá se vão três anos sem nenhuma voltinha completa no quarteirão)! E quem se importa??? Ela vai me matar com requintes de crueldade!!!
Hora de acertar os detalhes. Uma boa parte da manhã pendurado na internet, trocando informações e localizando transportadoras para conseguir trazê-lo para terras candangas. Indubitavelmente seria ótimo ir até Floripa e trazer o carro andando, mas o pouco tempo (dias corridos no escritório), passagens aéreas caras e o preço da gasolina beirando R$ 3,20 me fizeram repensar em uma alternativa mais cômoda, segura e barata. E eu ainda preciso ir pra Floripa, nem que seja dentro de um caixão, afinal, ela vai comer meu fígado no café da manhã!
O nome dela é Gee, por conta da música que estava tocando quando ela foi embarcada para os meus braços. "Gee, baby, ain't I good to you", na doce voz sofrida de Billie Holiday. Por mais que não seja um nome e sim uma expressão, foi exatamente o que tocou quando ví as fotos do carro sendo despacho na trasportadora e meus olhos merejados transformaram lágrimas em ansiedade. Passei mais de 30 horas sem dormir e o cansaço que meu corpo sente já não é nada comparado à agonia de poder dar a partida e levá-la para dar uma volta. Tem lá seus defeitos, seus vícios e alguns "poréns", mas serviu para saciar a sede que eu sentia de ter novamente um carro mais antigo. Sua presença vai causar alguma tormenta, mas que atire a primeira pedra quem nunca se incomodou com "carro x família"! E daí que ela já empunha uma faca e me olha com jeito de serial killer?!
Projetos? Existem muitos, mas o principal é conservá-la e mantê-la íntegra. Daqui a 10 anos estará apta à placa preta e confesso que a idéia de um clássico me abrilhanta os olhos (por mais inerente à minha natureza que isso possa soar). Para fazer besteiras e sofrer com modificações já me basta a Gorete! Tomara que ela não se enciume e que a patroa me perdoe por mais uma vez me apaixonar. Já posso sentir a lâmina rasgando minha carne e adentrando nas minhas costas.
"Que essa tensão que me corrói por dentro, seja um dia recompensada.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
Que a minha loucura seja perdoada
Por que metade de mim é amor... e a outra metade também!"
Metade - Oswaldo Montenegro