Minha avó costumava dizer que "se não vai pelo amor, vai pela dor" toda vez que a netaiada não queria tomar aquelas batidas de folhas que ela fazia. Eram chá de mastruz, boldo e ervas que desciam garganta abaixo por vontade própria ou por força bruta daquela velha senhora que nos forçava goela abaixo. Embrulhavam o estômago e arrepiavam até os cabelos das unhas. Era ruim, mas a eficiência não-cientificamente-comprovada daquilo fazia a velhinha ter a certeza que estava cuidando bem de seus netos. Pelo sim, pelo não, todos estamos vivos e (quase) sem vermes.
Dia desses estava me curando de uma ressaca e me lembrando daqueles chás "milagrosos" da vó. Lembrei ainda da época em que eu tinha um pouco mais de tempo para escrever noite adentro sobre carros e frivolidades. Ainda revirando memórias, lembrei-me de quando larguei um pouco de lado as teclas e encarei as ferramentas para começar meu primeiro projeto (a Gorete). Naquela época eu não tinha dinheiro, carro, tempo e muito menos experiência prática com motores e peças (ok, ainda não tenho tanto).
Dividia um Fiat Siena 2008 com a patroa no cotidiano e com as reviravoltas da vida, passei a dedicar-me ainda mais no trabalho e, consequentemente, precisava ainda mais de um carro. Conseguimos para a empresa um Ford Fiesta 2008 e este passou a ser meu carro de uso diário. O dividia com os funcionários no horário de expediente, mas sempre ia e voltava com ele para casa. Enquanto isso, o Fusca ia seguindo a passos trôpegos e lentos, mas a minha vontade de andar num carro antigo aos finais de semana e vez ou outra durante ela só aumentavam exponencialmente a cada peça adquirida, a cada planejamento executado e a cada parafuso apertado. Ainda era o segundo ano de projeto do Fusca e ele só andaria honrosamente após mais uns três anos dali. O Fiesta me servia muito bem, mas dividi-lo com outras pessoas que não zelavam por ele na empresa me deixavam desgostoso, além de ser um carro completamente insosso.
Queria um carro pra mim, meu, só meu, que ninguém mais dirigisse ou tivesse que dividir.
De volta aos anos 90
No verão de 2012 chegou o Fiat Prêmio CSL 1993 que vocês conhecem como Gee e a história dela vinha sendo embaralhada, mesclada e misturada com a do Fusca. Como o Fiesta foi vendido para darmos uma melhorada no ambiente da empresa e o Fusca foi embora para dar lugar ao telhado da casa que estávamos construindo, o Siena 2008 da patroa e o Fiat Prêmio 1993 foram os únicos sobreviventes desta epopeia que é a construção de uma casa ($$$ se esvai dos bolsos mais do que a gasolina do tanque de um dragster com acelerador à pleno).
Há cerca de dois anos que uso o Prêmio D I A R I A M E N T E (papo de 50 km/dia) e tento sempre mantê-lo em boa forma e sempre com as manutenções em dia. Confesso a vocês que fiquei surpreso com a desenvoltura do pequeno sedan e seu motor argentino de 1,6 litros. Não anda bem (não como um 1,6 L atual), não consome pouco (7,5 km/l), não tem regalias assistencialistas (ABS? EBD? Câmbio automático? pffff...) e muito menos tem um design arrebatador de olhares e curvas sinuosas (parece um desenho de criança da 2ª série), mas, como sempre disse em diversas matérias por aqui, aprecio a beleza dos pequenos detalhes e com este carro aprendi muito mais do que com qualquer outro que já tenha tido contato (sem recalques, Gorete!).
A partida pela manhã requer um apagão proposital. Pé na embreagem, um toque leve na chave para "lambuzar" os cilindros com óleo e não forçar a partida. Desligo a chave, uma bombadinha de leve no acelerador em concomitância com o novo giro da chave e a mais uma ou duas bombadinhas para estabilizar a marcha lenta. Pé na embreagem, pé no freio e o mesmo pé no acelerador (puntataqueando), marcha e aquele cheiro inconfundível de gasolina e óleo invadem a cabine. Simbora pra rua ganhar o dia! Semanalmente a conferência dos fluidos é obrigatória, bem como completar os níveis. Como todo carro de 215.000 km rodados com o motor ainda standard.
Sim senhores, aquela MILF deliciosa que vocês devoraram outrora em textos porno-auto-gráficos vem se demonstrando mais madura do que pensávamos: ela bebe um pouco além da conta e fuma um pouco além do esperado, mas nada que faça perder o tesão. Pelo contrário. Geralmente imagino-a como uma senhora de cerca de 30-e-alguns anos, em um belo e decotado vestido floral estrategicamente até o meio da coxa, bebendo um delicioso whisky e enebriando o ar com um belo charuto #2. Tá, beleza, é uma cena meio forçada, mas "a beleza está nos olhos de quem vê" (ou na mente do tarado que imagina). Ainda assim, gosto da interação que ela exige, mas sem parecer.
Ainda sobre o Prêmio (agora sem devaneios), da última atualização dela aqui no blog para cá, pouca coisa mudou, mas este pouco deu uma nova cara à ela. As rodas de Alfa Romeo 166 foram vendidas para pagar algumas contas pendentes e, para ser sincero, eu estava bem desmotivado à empreitada de adapta-las corretamente ao carro. Elas foram montadas em uma VW Saveiro BX de um amigo. Elas seriam trabalhosas para adaptar e as opções disponíveis de torneiro aqui no DF não me inspiravam confiança para este tipo de serviço. Como as coisas para VW são infinitamente mais fáceis neste país, a Saveiro recebeu as rodas com adaptadores (do jeito que eu NÃO queria montar) e já desfila por aí. Felicidades ao novo dono!
Como o carro da patroa estava precisando urgentemente de pneus novos, aproveitei que o amigo Marcelo Moraes não utilizaria o conjunto que veio em seu novo projeto (um Peugeot 106 1.6 16v Turbo que em breve estará por aqui) e peguei pra mim com a promessa para pagamento futuro em ajuda na aquisição de peças para seu PUG. Tratava-se de um jogo de pneus Goodyear de medidas 175/65-14" que eu planejava colocar na Gee montados nas rodas Momo Star 6,5x14" que ganhei do amigo Leonardo Perez. As rodas e pneus 13" originais do Prêmio seriam montadas no Siena pois estavam em ótimo estado.
Na prática, a teoria é bem diferente! Os pneus ficaram grandes e as rodas ficaram para fora demais dos para lamas. As caixas de roda do Prêmio são pequenas e estreitas e isso fez que num trajeto de 8km um dos pneus ficasse marcado e uma das presilhas do para choque traseiro fosse arrancada. Desmontei as rodas naquele mesmo dia para evitar maiores prejuízos.
No dia seguinte levei para um borracheiro fazer a troca e colocar os pneus 14" nas rodas de ferro originais do Siena. O Prêmio ficaria com as rodas originais 13" por mais um bom tempo até encontrar os pneus corretos (165/60-14" de Kia Picanto). Por coincidência, nesta borracharia havia um jogo em muito bom estado de quatro pneus nesta medida a um preço muito bom. Pedi para testar e saí de lá com eles. O Siena ganhou pneus novos e o Prêmio com o jogo de rodas de época com pneus certos. Algumas voltas a menos na suspensão de rosca dianteira do Prêmio e foi só fazer o alinhamento para sorrir igual criança. Minha felicidade só seria maior se conseguisse $$$ pra não ficar tão apertado naquele mês, pois ainda precisava abrir a caixa de câmbio do Siena que estava com a 3ª marcha banguela.
No trabalho, os funcionários perceberam meu entusiasmo com o novo setup. Uma das colaboradoras comentou que precisaria de pneus para seu carro e eu ofereci uns que eu tinha guardados do Renault Sandero (185/65-15") da minha mãe. Não eram novos, mas ainda rodavam bastante e estavam ocupando espaço. O preço foi exatamente o que paguei nos 165/60-14". Um rolo danado onde, no fim das contas, só fiquei devendo ao Marcelo os pneus que estão no carro da patroa.
Quem acompanhava, já sabia que o interior havia recebido um volante Nardi vindo de uma Alfa Romeo 155 Elegance. Com a ajuda de um amigo, adaptei-o a um cubo nacional da Lotse, mas mantive a cobertura emborrachada que veio no cubo original da Alfa. Algum tempo depois consegui outro volante semelhante, que veio com a manopla de câmbio em madeira. Este volante eu passei para um amigo do RJ (foi parar num VW Santana GLSi) e a manopla tenho guardada para uma adaptação posterior (nesse rolo todo, ainda fiquei com um volante Momo que era do Dennis Zanolla em troca de um Lotse Dakar). Para que os engarrafamentos não sejam tão monótonos e irritantes, foi instalado um toca-fitas Alpine vindo de uma Alfa Romeo 164, que fora ganhado de presente do amigo André Luiz. Ele toca um par de coaxiais e um par de tweeters instalados nas portas dianteiras e um par de triaxiais e outro par de tweeters instalados no tampão traseiro. Acreditem ou não, todos os falantes são da década de 90 e tocam bem. De resto, tudo original e funcionando corretamente. As luzes do check-control acendem, as do painel também, o ar condicionado gela que é uma beleza e o veludo das forrações (um belo veludo, por sinal) está em bom estado geral, sem rasgos ou esgarços demasiados.
Eu fiquei devendo algumas fotos melhores do interior, então aqui estão:
Infelizmente, por mais cuidado que se tenha, um carro de uso diário costuma sofrer bastante. Algumas marcas aparecem com o tempo, outras por acidentes, algumas por negligência (sua ou de terceiros)... mas aprendi a apreciar cada uma delas de uma forma diferente. Hoje já não me estresso pelo para choque trincado (daquela batida que me fez trocar as lanternas traseiras) pois sei que ele será reparado em breve, junto com a pintura de algumas peças para harmonizar o exterior. Não me aborreço com os pontos da pintura queimada que vão aparecendo ao longo do teto, mala e capô. Tento me concentrar em mantê-la sempre limpa, evito estacionamentos abertos, priorizo garagens, revezo de carro com meu pai para atender clientes que sei que não tem estacionamentos seguros, busco abastecer em postos confiáveis, tento evitar os abusos do pé direito (afinal, são 215.000 km!)...
... mas o tempo é um aliado (em alguns casos) e um inimigo (em outros).
No quesito manutenção, há cerca de cinco meses atrás ela recebeu uma revisão bastante extensa para a troca de algumas borrachas ressecadas, mangueiras, limpeza e regulagem do carburador (este já está pedindo arrego)... e a instalação do kit de buchas em poliuretano (PU) na dianteira. Este kit fez com que a suspensão ficasse um pouco mais duro e arisco, ainda mais em conjunto com a suspensão de rosca da Fênix com amortecedores de maior carga e o novo setup de rodas/pneus, mas nada que a deixasse impraticável para o uso diário. Quem está acostumado à carros modernos, acha o Prêmio (em sua configuração atual) bastante duro, mas a firmeza e a tranquilidade que ela passou a contornar as curvas são capazes de arrancar sorrisos de quem dirige e palavrões de quem se senta ao lado do motorista. Digo que ela está no limite do conforto para uso urbano.
Há algumas semanas decidi limpar novamente o sistema de arrefecimento que já completava 10.000 km rodados. Como não encontrava o fluido orientado pelo manual, segui a dica de alguns amigos e esgotei o sistema para passar a utilizar outro aditivo. O que mais se assemelha em sua composição ao utilizado pela fábrica é o Petronas Coolant 11 Verde - Pronto Para Uso. Com o sistema limpo e livre de resquícios do fluido anterior, limpei o reservatório de expansão e completei com 4 litros do aditivo.
Durante a semana enfrentamos severos engarrafamentos, para-e-anda do transito, liga-desliga do motor e a temperatura apresentou-se sempre estável e a ventoinha armando sempre um pouco acima aos 90° C dado o calor intenso que tem feito nesses dias e a baixa umidade relativa que são comuns no Centro-Oeste nesta época do ano.
Nessa hora alguns devem estar chateados pela venda das rodas de Alfa Romeo 166 e por conta do projeto ter deixado de ser um "OEM+" para debandar para o lado do "Period Correct" (sim, as rodas Momo Star são datadas de 1993), mas isso eu encaro como correções de trajeto. Com um pouco mais de tempo, grana, paciência e estudo, alternativas melhores virão para dar seguimento a este projeto.
Dá uma canseirinha tomar os cuidados necessários e a logística para não deixar seu carro exposto, mas a verdade é que o prazer de guiar um carro antigo no dia a dia, de receber os elogios pelo bom trato ao carro, despertar lembranças que animam o dia de uma pessoa, conhecer pessoas que são tão apaixonadas pelo modelo como você e trocar inúmeras ideias com eles sobre isso... são as delicias que só um carro com história pode te dar.
Como dizia minha avó, "se não vai por bem, vai por mal"! Mas no meu caso posso dizer-lhes: Há males que vem para o bem!
Me desfiz de um projeto de longa data para ter um teto e fiz dela (a Gee) algo mais adequado à um período que vivi e curti bastante.
Permita-se!
Dia desses estava me curando de uma ressaca e me lembrando daqueles chás "milagrosos" da vó. Lembrei ainda da época em que eu tinha um pouco mais de tempo para escrever noite adentro sobre carros e frivolidades. Ainda revirando memórias, lembrei-me de quando larguei um pouco de lado as teclas e encarei as ferramentas para começar meu primeiro projeto (a Gorete). Naquela época eu não tinha dinheiro, carro, tempo e muito menos experiência prática com motores e peças (ok, ainda não tenho tanto).
Dividia um Fiat Siena 2008 com a patroa no cotidiano e com as reviravoltas da vida, passei a dedicar-me ainda mais no trabalho e, consequentemente, precisava ainda mais de um carro. Conseguimos para a empresa um Ford Fiesta 2008 e este passou a ser meu carro de uso diário. O dividia com os funcionários no horário de expediente, mas sempre ia e voltava com ele para casa. Enquanto isso, o Fusca ia seguindo a passos trôpegos e lentos, mas a minha vontade de andar num carro antigo aos finais de semana e vez ou outra durante ela só aumentavam exponencialmente a cada peça adquirida, a cada planejamento executado e a cada parafuso apertado. Ainda era o segundo ano de projeto do Fusca e ele só andaria honrosamente após mais uns três anos dali. O Fiesta me servia muito bem, mas dividi-lo com outras pessoas que não zelavam por ele na empresa me deixavam desgostoso, além de ser um carro completamente insosso.
Queria um carro pra mim, meu, só meu, que ninguém mais dirigisse ou tivesse que dividir.
De volta aos anos 90
No verão de 2012 chegou o Fiat Prêmio CSL 1993 que vocês conhecem como Gee e a história dela vinha sendo embaralhada, mesclada e misturada com a do Fusca. Como o Fiesta foi vendido para darmos uma melhorada no ambiente da empresa e o Fusca foi embora para dar lugar ao telhado da casa que estávamos construindo, o Siena 2008 da patroa e o Fiat Prêmio 1993 foram os únicos sobreviventes desta epopeia que é a construção de uma casa ($$$ se esvai dos bolsos mais do que a gasolina do tanque de um dragster com acelerador à pleno).
Há cerca de dois anos que uso o Prêmio D I A R I A M E N T E (papo de 50 km/dia) e tento sempre mantê-lo em boa forma e sempre com as manutenções em dia. Confesso a vocês que fiquei surpreso com a desenvoltura do pequeno sedan e seu motor argentino de 1,6 litros. Não anda bem (não como um 1,6 L atual), não consome pouco (7,5 km/l), não tem regalias assistencialistas (ABS? EBD? Câmbio automático? pffff...) e muito menos tem um design arrebatador de olhares e curvas sinuosas (parece um desenho de criança da 2ª série), mas, como sempre disse em diversas matérias por aqui, aprecio a beleza dos pequenos detalhes e com este carro aprendi muito mais do que com qualquer outro que já tenha tido contato (sem recalques, Gorete!).
A partida pela manhã requer um apagão proposital. Pé na embreagem, um toque leve na chave para "lambuzar" os cilindros com óleo e não forçar a partida. Desligo a chave, uma bombadinha de leve no acelerador em concomitância com o novo giro da chave e a mais uma ou duas bombadinhas para estabilizar a marcha lenta. Pé na embreagem, pé no freio e o mesmo pé no acelerador (puntataqueando), marcha e aquele cheiro inconfundível de gasolina e óleo invadem a cabine. Simbora pra rua ganhar o dia! Semanalmente a conferência dos fluidos é obrigatória, bem como completar os níveis. Como todo carro de 215.000 km rodados com o motor ainda standard.
Sim senhores, aquela MILF deliciosa que vocês devoraram outrora em textos porno-auto-gráficos vem se demonstrando mais madura do que pensávamos: ela bebe um pouco além da conta e fuma um pouco além do esperado, mas nada que faça perder o tesão. Pelo contrário. Geralmente imagino-a como uma senhora de cerca de 30-e-alguns anos, em um belo e decotado vestido floral estrategicamente até o meio da coxa, bebendo um delicioso whisky e enebriando o ar com um belo charuto #2. Tá, beleza, é uma cena meio forçada, mas "a beleza está nos olhos de quem vê" (ou na mente do tarado que imagina). Ainda assim, gosto da interação que ela exige, mas sem parecer.
Ainda sobre o Prêmio (agora sem devaneios), da última atualização dela aqui no blog para cá, pouca coisa mudou, mas este pouco deu uma nova cara à ela. As rodas de Alfa Romeo 166 foram vendidas para pagar algumas contas pendentes e, para ser sincero, eu estava bem desmotivado à empreitada de adapta-las corretamente ao carro. Elas foram montadas em uma VW Saveiro BX de um amigo. Elas seriam trabalhosas para adaptar e as opções disponíveis de torneiro aqui no DF não me inspiravam confiança para este tipo de serviço. Como as coisas para VW são infinitamente mais fáceis neste país, a Saveiro recebeu as rodas com adaptadores (do jeito que eu NÃO queria montar) e já desfila por aí. Felicidades ao novo dono!
Como o carro da patroa estava precisando urgentemente de pneus novos, aproveitei que o amigo Marcelo Moraes não utilizaria o conjunto que veio em seu novo projeto (um Peugeot 106 1.6 16v Turbo que em breve estará por aqui) e peguei pra mim com a promessa para pagamento futuro em ajuda na aquisição de peças para seu PUG. Tratava-se de um jogo de pneus Goodyear de medidas 175/65-14" que eu planejava colocar na Gee montados nas rodas Momo Star 6,5x14" que ganhei do amigo Leonardo Perez. As rodas e pneus 13" originais do Prêmio seriam montadas no Siena pois estavam em ótimo estado.
Na prática, a teoria é bem diferente! Os pneus ficaram grandes e as rodas ficaram para fora demais dos para lamas. As caixas de roda do Prêmio são pequenas e estreitas e isso fez que num trajeto de 8km um dos pneus ficasse marcado e uma das presilhas do para choque traseiro fosse arrancada. Desmontei as rodas naquele mesmo dia para evitar maiores prejuízos.
No dia seguinte levei para um borracheiro fazer a troca e colocar os pneus 14" nas rodas de ferro originais do Siena. O Prêmio ficaria com as rodas originais 13" por mais um bom tempo até encontrar os pneus corretos (165/60-14" de Kia Picanto). Por coincidência, nesta borracharia havia um jogo em muito bom estado de quatro pneus nesta medida a um preço muito bom. Pedi para testar e saí de lá com eles. O Siena ganhou pneus novos e o Prêmio com o jogo de rodas de época com pneus certos. Algumas voltas a menos na suspensão de rosca dianteira do Prêmio e foi só fazer o alinhamento para sorrir igual criança. Minha felicidade só seria maior se conseguisse $$$ pra não ficar tão apertado naquele mês, pois ainda precisava abrir a caixa de câmbio do Siena que estava com a 3ª marcha banguela.
No trabalho, os funcionários perceberam meu entusiasmo com o novo setup. Uma das colaboradoras comentou que precisaria de pneus para seu carro e eu ofereci uns que eu tinha guardados do Renault Sandero (185/65-15") da minha mãe. Não eram novos, mas ainda rodavam bastante e estavam ocupando espaço. O preço foi exatamente o que paguei nos 165/60-14". Um rolo danado onde, no fim das contas, só fiquei devendo ao Marcelo os pneus que estão no carro da patroa.
Quem acompanhava, já sabia que o interior havia recebido um volante Nardi vindo de uma Alfa Romeo 155 Elegance. Com a ajuda de um amigo, adaptei-o a um cubo nacional da Lotse, mas mantive a cobertura emborrachada que veio no cubo original da Alfa. Algum tempo depois consegui outro volante semelhante, que veio com a manopla de câmbio em madeira. Este volante eu passei para um amigo do RJ (foi parar num VW Santana GLSi) e a manopla tenho guardada para uma adaptação posterior (nesse rolo todo, ainda fiquei com um volante Momo que era do Dennis Zanolla em troca de um Lotse Dakar). Para que os engarrafamentos não sejam tão monótonos e irritantes, foi instalado um toca-fitas Alpine vindo de uma Alfa Romeo 164, que fora ganhado de presente do amigo André Luiz. Ele toca um par de coaxiais e um par de tweeters instalados nas portas dianteiras e um par de triaxiais e outro par de tweeters instalados no tampão traseiro. Acreditem ou não, todos os falantes são da década de 90 e tocam bem. De resto, tudo original e funcionando corretamente. As luzes do check-control acendem, as do painel também, o ar condicionado gela que é uma beleza e o veludo das forrações (um belo veludo, por sinal) está em bom estado geral, sem rasgos ou esgarços demasiados.
Eu fiquei devendo algumas fotos melhores do interior, então aqui estão:
Infelizmente, por mais cuidado que se tenha, um carro de uso diário costuma sofrer bastante. Algumas marcas aparecem com o tempo, outras por acidentes, algumas por negligência (sua ou de terceiros)... mas aprendi a apreciar cada uma delas de uma forma diferente. Hoje já não me estresso pelo para choque trincado (daquela batida que me fez trocar as lanternas traseiras) pois sei que ele será reparado em breve, junto com a pintura de algumas peças para harmonizar o exterior. Não me aborreço com os pontos da pintura queimada que vão aparecendo ao longo do teto, mala e capô. Tento me concentrar em mantê-la sempre limpa, evito estacionamentos abertos, priorizo garagens, revezo de carro com meu pai para atender clientes que sei que não tem estacionamentos seguros, busco abastecer em postos confiáveis, tento evitar os abusos do pé direito (afinal, são 215.000 km!)...
... mas o tempo é um aliado (em alguns casos) e um inimigo (em outros).
No quesito manutenção, há cerca de cinco meses atrás ela recebeu uma revisão bastante extensa para a troca de algumas borrachas ressecadas, mangueiras, limpeza e regulagem do carburador (este já está pedindo arrego)... e a instalação do kit de buchas em poliuretano (PU) na dianteira. Este kit fez com que a suspensão ficasse um pouco mais duro e arisco, ainda mais em conjunto com a suspensão de rosca da Fênix com amortecedores de maior carga e o novo setup de rodas/pneus, mas nada que a deixasse impraticável para o uso diário. Quem está acostumado à carros modernos, acha o Prêmio (em sua configuração atual) bastante duro, mas a firmeza e a tranquilidade que ela passou a contornar as curvas são capazes de arrancar sorrisos de quem dirige e palavrões de quem se senta ao lado do motorista. Digo que ela está no limite do conforto para uso urbano.
Há algumas semanas decidi limpar novamente o sistema de arrefecimento que já completava 10.000 km rodados. Como não encontrava o fluido orientado pelo manual, segui a dica de alguns amigos e esgotei o sistema para passar a utilizar outro aditivo. O que mais se assemelha em sua composição ao utilizado pela fábrica é o Petronas Coolant 11 Verde - Pronto Para Uso. Com o sistema limpo e livre de resquícios do fluido anterior, limpei o reservatório de expansão e completei com 4 litros do aditivo.
Durante a semana enfrentamos severos engarrafamentos, para-e-anda do transito, liga-desliga do motor e a temperatura apresentou-se sempre estável e a ventoinha armando sempre um pouco acima aos 90° C dado o calor intenso que tem feito nesses dias e a baixa umidade relativa que são comuns no Centro-Oeste nesta época do ano.
Nessa hora alguns devem estar chateados pela venda das rodas de Alfa Romeo 166 e por conta do projeto ter deixado de ser um "OEM+" para debandar para o lado do "Period Correct" (sim, as rodas Momo Star são datadas de 1993), mas isso eu encaro como correções de trajeto. Com um pouco mais de tempo, grana, paciência e estudo, alternativas melhores virão para dar seguimento a este projeto.
Dá uma canseirinha tomar os cuidados necessários e a logística para não deixar seu carro exposto, mas a verdade é que o prazer de guiar um carro antigo no dia a dia, de receber os elogios pelo bom trato ao carro, despertar lembranças que animam o dia de uma pessoa, conhecer pessoas que são tão apaixonadas pelo modelo como você e trocar inúmeras ideias com eles sobre isso... são as delicias que só um carro com história pode te dar.
Como dizia minha avó, "se não vai por bem, vai por mal"! Mas no meu caso posso dizer-lhes: Há males que vem para o bem!
Me desfiz de um projeto de longa data para ter um teto e fiz dela (a Gee) algo mais adequado à um período que vivi e curti bastante.
Permita-se!