Quando peço aos proprietários de seus veículos um pouco de sua história, geralmente recebo trechos aleatórios e histórias amarradas. Muitas das vezes eu penso e repenso mais de duas vezes se devo ou não postar a versão do proprietário, e desta vez a resposta é "sim".
A história do amigo Diego Lohans e seu VW Sedan 1300, o Pomarola'72, tange dos primórdios de um dos fóruns que mais me cativam até hoje. Conheci Diego no início do fórum RatVolks e ele foi um dos que mais me ensinaram e apoiaram na reforma do meu Fusca. Já conversamos por Orkut, MSN, Facebook, Twitter, Whatsapp... mas nenhuma delas foi tão bacana quanto as duas vezes que nos vimos nas passagens de Diego por Brasília. Amizade de verdade deixa o tempo passar e quando se vêem novamente, parece que o último papo foi ontem.
O Pomarola sempre foi muito bem cuidado por Diego e, confesso, me espelhei em muita coisa dele para construir o meu. Após um período tenebroso durante a reforma do Pomarola, hoje o carrinho roda em sua melhor forma e com o melhor de seus acessórios.
Vamos ao papo. Depois vem algumas considerações:
O Sedan foi comprado na antiga concessionária VW Sabrico, onde hoje fica o Shopping West Plaza na Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo, por um senhor morador da região da Lapa, também na zona oeste de Sampa. Ficou com seu único dono ate 1998, quando foi vendido ao meu tio.
O carro era intacto, 100% original, mas com o decorrer dos anos meu tio começou a construção da casa pois iria se casar, por volta do ano de 2000, nisso foi carregando coisas no carro, usando pra trabalhar e assim o carro foi sendo detonado. Os bancos originais rasgaram e ao invés de trocar as capas, ele trocou os bancos por um par de Procar. Trocou o volante original por um Cougar pois ele "batia a mão no para-brisa" (palavras do meu tio). A pintura ficou toda desgastada e queimada de sol. Ele só fazia manutenção quando quebrava.
Até que em 2006, já com a casa construída, ele resolveu vender e anunciou o Fusca por 2 mil reais. Foi quando meu pai me falou que apesar de judiado o carro tinha uma ótima estrutura e mecânica, mas eu nem ligava pra Fusca. Comprei pra ser meu primeiro carro, quando ainda tinha 17 anos. Como era meu tio, me vendeu com um super desconto por R$ 1.900,00 mesmo com diversos interessados em pagar mais do que ele pediu.
Foi então que cheguei do trabalho mais cedo no dia 09 de junho de 2006, por causa da abertura da Copa do Mundo da Alemanha e encontrei ele pela primeira vez na garagem de casa. Então bora ver o jogo de abertura? Que nada! Bora fazer uma limpeza monstra no Fusca!!! Devo ter tirado uns 5 kg de terra, areia, cimento e pedaços de tijolo de dentro dele, fora moedas, ferramentas, objetos do mais diverso tipo. Ai começou a doença, pesquisando muito na internet, fazendo amizades com pessoas que dividiam a mesma paixão num grupo de Orkut, que posteriormente se transformou no fórum RatVolks, nessa altura já entendia um pouco mais, mas não muita coisa, ai já estava apaixonado pelo Fusca, que recebeu o apelido de Pomarola (curiosamente na mesma época que ele recebeu o apelido, a embalagem do molhou se tornou verde... kkkk).
Aos poucos fui corrigindo as marcas do tempo, voltando o volante original para seu devido lugar, procurando bancos baixos e meu outro tio me deu um rádio TKR de época funcionando perfeitamente. Anos depois chegaram as rodas Titânio Vênus, suspensão dianteira encurtada em 14cm, rebaixada com 2 catracas e foram retirados os amortecedores e na traseira o facão apenas foi reajustado. Até que um dia decidi restaurá-lo, para infelicidade minha, do carro e de todas as pessoas próximas a mim e a ele. Foram 4 anos brigando com o dono da oficina para terminar o carro, o cara só enrolava. O caso foi parar na justiça em 2012 (então com 2 anos de oficina) e fato este que ocorre até hoje, afinal a justiça do nosso país é uma "belezinha", pra não dizer coisa pior. Isso porque foi dado entrada no processo no Juizado Especial, o tal do pequenas causas, que é mais rápido (imagina a velocidade da justiça comum? Nem quero imaginar).
Mas enfim, no começo de 2014, já permitido pela juíza a tirar o carro da oficina (o cara já tinha sido condenado a me indenizar), o Poma foi levado de volta pra casa. Aí começou a ajuda de alguns amigos, o Danilo Panda, detailer mestre no polimento, resolveu dar uma "polida de presente" na lata de molho ambulante para podermos iniciar a montagem. O carro só recebeu peças novas e de primeira, como para-choques Belfex novos modelo largo, lanternas rubi originais VW vinda dos modelos 1200 dos anos 60, faróis de Porsche 911 dos anos 70 e que teve o do lado direito quebrado por um grupo de garotos que jogava futebol numa praça e chutaram a bola na rua na hora que o Fusca passava (forçando a voltar para as lentes no padrão original), interior todo caramelo com carpete boucler marrom claro, volante de Alfa Romeo 2300 de madeira com logotipo personalizado com o brasão de Wolfsburg exclusivo, cestinha porta-objetos cromada no túnel, câmbio jet para engate rápido na base da alavanca, manopla de madeira, botões de painel exclusivos também de madeira, as gradinhas, a tampa do porta luvas, o marcador de combustível e o velocímetro foram restaurados
A cereja do bolo são as rodas Sprintstar fabricadas pela Lemmerz em 1967 na "Western Germany" (só temos conhecimento de 2 jogos desse modelo no Brasil), na dianteira entraram um par de pneus Continental de Smart na medida 175/55 e BFGoodrich de medidas 205/70 na traseira. Toda a elétrica foi revisada. No motor, a mecânica é original, mas foram pintadas todas as latas de preto "alta temperatura", todas as peças da parte elétrica são Bosch novas, possui alternador e ignição eletrônica, o escape é um 4x2 cruzado sem abafador dos Fuscas Speed de pista.
Enquanto acompanhava o retorno do Pomarola para casa, sentia um misto de ansiedade e impotência. Primeiramente eu queria MUITO ver aquele carro andando novamente e levando meu amigo para os encontros, eventos, passeios e curtições a bordo de seu VW e a segunda parte dava-se pelo fato do carro estar em São Paulo e eu ter a consciência de que apoiá-lo seria o melhor que eu poderia fazer, mas não apertaria um parafuso sequer.
Durante o período em que o carro estava na oficina, durante as conversas, sempre havia um certo receio de perguntar ao Diego como estava o Pomarola, pois geralmente as respostas confirmavam as expectativas e no fim acabávamos nos apoiando mutuamente. Eu sempre repetia para ele: "Resiliência, amigo. RESILIÊNCIA!"
Por fim os bons tempos chegaram. Ver a alegria de Diego ao confidenciar sobre as exclusivíssimas rodas Lemmerz era algo motivador. Saber que ao seu lado estavam bons amigos dispostos a ajudá-lo a trazer o carro de volta à sua melhor forma e que, apesar de todas as dificuldades ele não estava sequer pensando em desistir, era motivador.
Obrigado pelas lições, amigo!