Esta matéria foi originalmente publicada na Revista SuperSpeed #99 de Abril de 2013 e só agora tomei vergonha na cara de fazer as devidas anotações e publicá-la por aqui. Como os textos para a revista não podem ter muito envolvimento, é preciso dissociar o Rafa-redator do Rafa-amigo. Não é uma das tarefas mais fáceis e sempre escapa um comentário ou parágrafo inteiro que exige uma edição. A vantagem do blog é que o texto vai na íntegra e eu ainda complemento com as devidas honras, palavrões e explicações que muitas vezes são necessários.
Para saber sobre o carro, basta ler o texto publicado na revista:
Para ler sobre o que me motivou a re-postar a matéria por aqui, basta continuar lendo.
Há vários anos conheci um pessoal de Curitiba/PR através de um fórum muito bacana, do qual os leitores mais antigos do blog se lembrarão bem, chamado RacingArt. Fórum bacana, pessoal unido, postagens de qualidade, muito material legal, molecada agilizada pra organizar um dos melhores trackdays do país... tudo muito bacana. Fui ficando por lá e conhecendo virtualmente muita gente legal (alguns conheci pessoalmente algum tempo depois e são ótimas pessoas!), dentre eles, o Plautos. Um cara caladão, concentrado, direto, de poucas brincadeiras no fórum, mas um bastardo brincalhão na vida real. Conversávamos esporadicamente e sempre muito diretos em relação aos assuntos. Muito bacana conversar com quem entende de carros, de pista (o cara já participou de campeonatos de marcas - Maserati, Mini...), foi à Nür numa viagem bacana com alguns amigos e montou alguns carros memoráveis com receitas peculiares (Fusca 2.300, Polo GTI de pista, Kombi watercooled 1.6 com rodas de Polo 18", Montana Turbinada...). O cara entende.
Conheci-o pessoalmente quando veio correr num trackday em Brasília com a sua recém adquirida BMW 1M (a da matéria) e a Kombi (sim, Kombi no trackday!) e aproveitei o "frete" para pedir que ele trouxesse algumas coisas para o meu Fusca que estavam em Curitiba. De quebra, ganhei dele alguns mimos que ele havia retirado do seu Fusca 2300 (freios traseiros e escape 4x1 de inox) que em breve estarão montados na Gorete. Busquei-os no aeroporto, conversamos bastante, conheci a galera do RacingArt, saímos com o pessoal a noite, levei-os ao aeroporto... bem bacana a "piazada". Junto a eles, estava a (até então) namorada do Plautos, a Aletha.
Algum tempo depois, em outra oportunidade e (mais um) track day, Plautos veio apenas com a sua 1M (agora mais preparada para encarar o abrasivo asfalto da capital), sua (agora) esposa e o pequeno Athos na barriga da mamãe Aletha. Nesta ocasião fizemos mais algumas fotos que seriam utilizadas na matéria e que agora estão re-publicadas na íntegra aqui no blog. Também neste dia, uma pessoa muito especial pra mim estava presente: meu pai. Pela primeira vez ele acompanhava um trackday sem qualquer pretenção. Estava em casa sem fazer porra nenhuma e foi lá para assistir. Eu já estava desde cedo fotografando o evento e na correria para dar algum apoio pra galera de Curitiba que estava por aqui. A vontade de pegar uma carona era grande, mas a correria era ainda maior e os pilotos quase não paravam nos boxes.
Então o Plautos encostou a 1M. Não sobrariam mais muitas voltas pois o tanque estava quase no fim. Então ele ofereceu:
- Rafa, vamos dar uma volta?
Por alguns segundos eu pensei que seria ótimo, mas em um milésimo dele eu neguei:
- Cara, seria ótimo, mas prefiro que você leve meu pai para algumas voltas rápidas, pode ser?
- Será um prazer!
- Ô paiê! Coloca o capacete que você vai andar com o Plautos!
Meu pai estava no canto, degustando uma cerveja debaixo de um calor de uns 33ºC. Saquei a cerveja da mão dele, dei um gole e entreguei-lhe o capacete.
- É naquela ali? - perguntou ele sem saber colocar o capacete direito
- Isso pai! Este é o Plautos!
- Tudo bem com o senhor? - disse Plautos meio sério
- Vai ficar quando eu conseguir colocar o capacete! - disse o pai já entrando em sua carona.
Na primeira volta Plautos pegou leve e fez o traçado conforme manda o figurino, mas sem forçar demais. Na segunda volta já era possível ver o braço do pai através da janela segurando no puta-que-pariu e se agarrando onde mais pudesse enquanto Plautos enfiava o pé no assoalho e a 1M respondia prontamente à direção e ao acelerador. Em uma das curvas era possível ver que Plautos se divertia com a agonia do meu velho. Volante para um lado, traseira da 1M para o outro e por muito pouco não preciso comprar um puta-que-pariu novo para a BMW.
Ao fim da terceira volta, Plautos entra para os boxes e a cara de felicidade do pai é notável. Ele sorri de orelha a orelha e já nem sente mais os efeitos das cervejas que tomara minutos antes para aplacar o calor.
- Foi legal, pai?
- Porra! O cara toca MUITO! Ele conhece do carro e do traçado! Manda muito bem!
No dia seguinte, um almoço lá em casa com a galera toda de Curitiba pouco antes de embarcarem de volta. Bucho cheio, malas embarcadas, um abraço de "até breve" em todos e algumas histórias para contar.
Voltem sempre, amigos! No que for possível, do lado de cá tem um candango agradecido pela vossa amizade e pelas oportunidades proporcionadas em trazer um pai para mais perto do mundo que tanto fascina seu filho.
Grande abraço a todos!
Para saber sobre o carro, basta ler o texto publicado na revista:
Texto e Fotos: Rafael Souza
Enquanto seu carro exclusivo para as pistas não fica pronto, adquirir um modelo com boa base foi a melhor solução encontrada. Era para permanecer original e não desviar o foco do preparado... era.
Colocar em prática um projeto automotivo é mais ou menos como criar um filho: Você tem alegrias, responsabilidades, desilusões e grandes prazeres. É um tanto quanto trabalhoso, desgastante, gasta-se mais dinheiro do que se planeja e parece que nunca haverá um momento apenas de curtição sem que alguma preocupação venha à mente.
O proprietário da BMW 1M que ilustra estas páginas da sua Super Speed sempre participou de trackdays e provas de circuito com carros preparados fossem eles turbo ou aspirados. Começou a, literalmente, construir um raro VW Polo GTI para as pistas, mas como todo projeto, a demora e acerto de detalhes da construção do modelo começaram a incomodar. Para não ter que ficar acelerando seu VW Fusca’61 pelas pistas, até mesmo por não tratar-se de um projeto específico para a trackday, a alternativa encontrada foi a aquisição de um modelo com boa base mecânica e estrutural, que deveria ficar quase que original, apenas para esperar o VW Polo ficar pronto.
Quando foi lançada, a BMW 1M causou grande alvoroço entre os bimmer lovers (amantes da marca bávara) e até entre os apaixonados por outras marcas. Trata-se de um carro ágil, leve, ótima estrutura, alta rigidez torcional e um motor extremamente potente e elástico. Alguns reviews, test drives e era hora de começar a juntar alguns trocados para adquirir aquela que seria a substituta temporária perfeita para o que se espera do Polo.
Então chegou o dia de colocar a 1M na garagem, dar umas voltas pelo quarteirão, acelerar leve para o perfeito assentamento e amaciamento das partes móveis do motor e blá blá blá. Nada disso! Um carro desses merece e deve ser domado na pista e assim foi feito. Em menos de um mês e 2000 km rodados a BMW 1M correu em três trackdays completamente original, sendo que no último deles já foi com um jogo completo de pneus Yokohama Neova de medidas 245/35-19” na dianteira e 265/35-19” na traseira novos. Atualmente este conjunto ficou restrito ao uso nas ruas e nas pistas são utilizados slicks da Yokohama de medidas 250/650-18” montados em rodas ARC-8 de medidas 10x18” que deixaram o conjunto melhor equilibrado.
Foi então que o proprietário notou que a base da 1M era perfeita para pista e isso se refletia em seus tempos a cada volta. E o que era para ficar completamente original, servindo como carro para passeios aos finais de semana com a esposa e algumas viagens ganhou alguns adendos para que a performance fosse otimizada. Pastilhas de freio Ferodo 2500 chegaram a ser utilizadas, mas depois do upgrade de discos e pinças, deram lugar às Hawk DTC70 e atualmente as PFC01 (para uso exclusivo em pistas) foram montadas em pinças de freio StopTech da linha Trophy com enormes pinças de seis pistões na dianteira e quatro na traseira, contando com discos de freios de 380 mm na dianteira e 360 mm na traseira. Parar agora não é mais problema e o fadding praticamente inexiste.
A suspensão recebeu um jogo de coilovers da AST Suspension modelo 4200 com camber plate e ajustes de pressão, bound e re-bound para facilitar o acerto em cada pista ou para uso civil. As barras estabilizadoras da suspensão agora são da H&R e ajudam a controlar o comportamento arisco da 1M quando o controle de tração está desligado. É dança no pé e melodia para os ouvidos.
O coração pulsante desta fera sobre quatro rodas é o 3.0 litros de seis cilindros biturbo e injeção direta de combustível já conhecido das 335i e Z4. Fazer as contas com esta máquina é de assustar: são cerca de 1.500 kg para um carro que originalmente despeja 340 cv nas rodas traseiras quando ainda estava original. Agora a conversa é outra.
Então foi providenciado um sistema completo de escape em inox da Akrapovic, que além de 16 kg mais leve, acelera o fluxo dos gases e melhora o rendimento. Além do escape mais livre, o conjunto conta com um botão escondido que ao ser acionado, direciona os gases para outro setor menos restritivo, o que torna o ronco mais rouco e a libera um pouco mais a potência. Além do escape, a admissão foi melhorada com um kit de filtros de ar AFE Power estágio 2, um intercooler AMS de maior capacidade de resfriamento e um remapeamento da ECU pela Coob Tuning para adequação dos parâmetros às novas peças de performance. As mudanças parecem poucas, mas para um motor de alto rendimento, qualquer peça de boa qualidade já é um salto no desempenho. Atualmente esta 1M ostenta saudáveis 385 cv nas rodas (algo em torno de 440 cv no eixo do motor, considerando as perdas da transmissão) com ótimos 61,36 kgfm de torque com poucas peças e uma enorme diferença no rendimento, que aliada à tocada afiada, é certeza de baixos tempos na pista.
Para ajudar na pilotagem o volante original deu lugar a um modelo Performance V2 da própria BMW que mostra tempo de volta, cronometro, temperatura de água, óleo e um divertido acelerômetro em um visor localizado na parte de cima, tornando a visualização bem mais fácil. A alavanca SSK Rogue também é novidade e favorece uma melhor empunhadura ao câmbio manual de seis marchas. Um cinto de segurança de quatro pontos da Schroth Racing foi instalado para o motorista ficar completamente atado ao banco envolvente.
Em pouco menos de um ano esta BMW 1M já participou de 16 trackdays, totalizando mais de 2.600 km de uso em pista sem apresentar qualquer problema e cada vez os tempos vão ficando mais baixos. No Autódromo Intenacional Nelson Piquet, em Brasília, sem qualquer ambientação prévia com o traçado, logo na primeira bateria do dia a 1M tratou de mostrar serviço e virou ótimos 2:16.013 minutos. A título de comparação, um Nissan GTR com o tripo da potência virou 2:14.476 no mesmo traçado.
Uma marca de tradição com ótimos produtos e um carro de dirigibilidade ímpar. Um piloto experiente, com sede de pista e audaz. Misture estes dois ingredientes e você terá temporais sendo desmistificados, Porsches e GTRs chorões em provas de trackday e um conjunto que serve tanto para as pistas quanto para levar a família para uma visita rápida à casa da sogra. Mas tem que ser bem rápida!
Para ler sobre o que me motivou a re-postar a matéria por aqui, basta continuar lendo.
Há vários anos conheci um pessoal de Curitiba/PR através de um fórum muito bacana, do qual os leitores mais antigos do blog se lembrarão bem, chamado RacingArt. Fórum bacana, pessoal unido, postagens de qualidade, muito material legal, molecada agilizada pra organizar um dos melhores trackdays do país... tudo muito bacana. Fui ficando por lá e conhecendo virtualmente muita gente legal (alguns conheci pessoalmente algum tempo depois e são ótimas pessoas!), dentre eles, o Plautos. Um cara caladão, concentrado, direto, de poucas brincadeiras no fórum, mas um bastardo brincalhão na vida real. Conversávamos esporadicamente e sempre muito diretos em relação aos assuntos. Muito bacana conversar com quem entende de carros, de pista (o cara já participou de campeonatos de marcas - Maserati, Mini...), foi à Nür numa viagem bacana com alguns amigos e montou alguns carros memoráveis com receitas peculiares (Fusca 2.300, Polo GTI de pista, Kombi watercooled 1.6 com rodas de Polo 18", Montana Turbinada...). O cara entende.
Conheci-o pessoalmente quando veio correr num trackday em Brasília com a sua recém adquirida BMW 1M (a da matéria) e a Kombi (sim, Kombi no trackday!) e aproveitei o "frete" para pedir que ele trouxesse algumas coisas para o meu Fusca que estavam em Curitiba. De quebra, ganhei dele alguns mimos que ele havia retirado do seu Fusca 2300 (freios traseiros e escape 4x1 de inox) que em breve estarão montados na Gorete. Busquei-os no aeroporto, conversamos bastante, conheci a galera do RacingArt, saímos com o pessoal a noite, levei-os ao aeroporto... bem bacana a "piazada". Junto a eles, estava a (até então) namorada do Plautos, a Aletha.
Algum tempo depois, em outra oportunidade e (mais um) track day, Plautos veio apenas com a sua 1M (agora mais preparada para encarar o abrasivo asfalto da capital), sua (agora) esposa e o pequeno Athos na barriga da mamãe Aletha. Nesta ocasião fizemos mais algumas fotos que seriam utilizadas na matéria e que agora estão re-publicadas na íntegra aqui no blog. Também neste dia, uma pessoa muito especial pra mim estava presente: meu pai. Pela primeira vez ele acompanhava um trackday sem qualquer pretenção. Estava em casa sem fazer porra nenhuma e foi lá para assistir. Eu já estava desde cedo fotografando o evento e na correria para dar algum apoio pra galera de Curitiba que estava por aqui. A vontade de pegar uma carona era grande, mas a correria era ainda maior e os pilotos quase não paravam nos boxes.
Então o Plautos encostou a 1M. Não sobrariam mais muitas voltas pois o tanque estava quase no fim. Então ele ofereceu:
- Rafa, vamos dar uma volta?
Por alguns segundos eu pensei que seria ótimo, mas em um milésimo dele eu neguei:
- Cara, seria ótimo, mas prefiro que você leve meu pai para algumas voltas rápidas, pode ser?
- Será um prazer!
- Ô paiê! Coloca o capacete que você vai andar com o Plautos!
Meu pai estava no canto, degustando uma cerveja debaixo de um calor de uns 33ºC. Saquei a cerveja da mão dele, dei um gole e entreguei-lhe o capacete.
- É naquela ali? - perguntou ele sem saber colocar o capacete direito
- Isso pai! Este é o Plautos!
- Tudo bem com o senhor? - disse Plautos meio sério
- Vai ficar quando eu conseguir colocar o capacete! - disse o pai já entrando em sua carona.
Na primeira volta Plautos pegou leve e fez o traçado conforme manda o figurino, mas sem forçar demais. Na segunda volta já era possível ver o braço do pai através da janela segurando no puta-que-pariu e se agarrando onde mais pudesse enquanto Plautos enfiava o pé no assoalho e a 1M respondia prontamente à direção e ao acelerador. Em uma das curvas era possível ver que Plautos se divertia com a agonia do meu velho. Volante para um lado, traseira da 1M para o outro e por muito pouco não preciso comprar um puta-que-pariu novo para a BMW.
Ao fim da terceira volta, Plautos entra para os boxes e a cara de felicidade do pai é notável. Ele sorri de orelha a orelha e já nem sente mais os efeitos das cervejas que tomara minutos antes para aplacar o calor.
- Foi legal, pai?
- Porra! O cara toca MUITO! Ele conhece do carro e do traçado! Manda muito bem!
No dia seguinte, um almoço lá em casa com a galera toda de Curitiba pouco antes de embarcarem de volta. Bucho cheio, malas embarcadas, um abraço de "até breve" em todos e algumas histórias para contar.
Voltem sempre, amigos! No que for possível, do lado de cá tem um candango agradecido pela vossa amizade e pelas oportunidades proporcionadas em trazer um pai para mais perto do mundo que tanto fascina seu filho.
Grande abraço a todos!