Na semana de lançamento do Citroën DS3 um amigo me chamou para comparecer ao coquetel de apresentação do novo modelo da marca francesa. Como bom apreciador de veículos, belas modelos e boca-livre, fui feliz. Levei a câmera e ainda chamei meu pai para ir conosco. Tudo muito bonito, organizado e com algumas belas apresentando o carro.
Ao chegarmos, os três exemplares estavam coberto por uma capa (que na minha opinião deveria ser brinde para os futuros proprietários) e via-se apenas uma parte das rodas.
A primeira decepção do dia veio logo ao primeiro copo: cerveja quente e aguada. Sou um apreciador de cerveja, mas pra mim tem que ser gelada. Ao contrário do líquido oferecido, as belas moças apresentadoras eram frias. Sorrisos quase que fisgados pelos cantos da boca para que aparecessem. Sequer me atrevi a perguntar algo sobre o carro, mas o que ouvi chega a ser impublicável. "O carro é lindo e tem tração
integral" (WHAT??? o carro é FWD!), "o carro é lindo e
o motor é da BMW" (WHAT??? O motor foi DESENVOLVIDO em parceria com a BMW), "o carro é lindo e
tem quase 200 cv" (WHAT??? São 165 cv declarados!!! ) entre outras pérolas. Mas uma coisa é certa: O carro e lindo e nisso elas tinham razão.
Quando a capa foi retirada, o diretor da concessionária acabou por desmentir algumas das informações das modelos, exceto a de que o carro é lindo. Realmente o carro é mais bonito pessoalmente do que naquelas fotos postadas em sites gringos e releases mentirosos. As curvas, os ângulos, a coluna "B" em forma de guelra de tubarão... é um estilo diferenciado e mais agressivo do que o dos concorrentes Audi A1 e Mini Cooper.
O motor 1.6 16v Turbo-intercooler com injeção direta de combustível desenvolve 165 cv @ 6.000 rpm com um torque máximo de 24,5 m.kgf a parcos 1.400 rpm. Como a turbina é pequena e o torque surge cedo, a condução na estrada torna-se extremamente agradável, pois mesmo em marchas mais altas e em baixa rotação, basta pressionar o pedal do acelerador para que o DS3 deslanche sem muito "lag" (atraso de ação do turbo). Em rotações mais altas é notável a falta de fôlego da turbina, que trabalha com pressão máxima de 1,0 bar e overboost de 1,2 bar de pressão positiva, mas até médias rotações o carro responde muito bem.
Foi inevitável não pensar em upgrades, como aqueles coletores de plástico na admissão sendo substituídos por boas doses de aço inox ou alumínio, além de uma turbina roletada de maior diâmetro. Oras... pra andar dentro da cidade, em baixas rotações a fase aspirada tem a obrigação de cumprir seu papel sem a ajuda da turbina, afinal, são 11.0:1 de taxa!!! O câmbio de seis marchas (não existe opção de câmbio automático) ajuda bastante com sua escalonação bem dividida.
É como dirigir um mega-kart. As reações são bem sentidas ao volante e pelas rodas de liga. A suspensão tem boa carga, mas se pensar em levar adultos no banco traseiro, espere para ouvir batidas de final de curso em solavancos tão comuns em nossas ótimas ruas re-pavimentadas com o mesmo cuidado com que um dentista faria uma obturação na boca de um crocodilo, sem anestesia. Os instrumentos trabalham freneticamente e as trocas de marchas mostraram-se agradáveis num primeiro momento. O motor está sempre a postos, mas tive a leve impressão de que sentiria falta de potência em uma viagem para não forçar tanto a turbina. Como já disse: a fase aspirada cuida bem da hora de tirar o carro da inércia.
Citroën, coloquem a potência aonde ela deve ficar!
O visual do carro é bastante charmoso, realmente. As rodas personalizáveis de 17" calçadas com pneus 205/45 deixam o carro encorpado e robusto, além de favorecer a estabilidade. Só peça para não encontrar nenhuma cratera nas ruas, pois com o perfil baixo entortar uma roda dessas pode sair salgado para o bolso. Por falar em salgados, os que foram servidos estavam bem gostosos.
O carro pode ter a combinação de cores personalizada ao gosto do cliente, mas o pessoal não foi muito criativo na escolha dos modelos em exibição. Havia um vermelho com teto preto, outro preto com teto preto e um cinza com teto preto. Ei amigos, isso é um lançamento, e pede roupas mais adequadas. O vermelho até que chamou a atenção, mas fiquei tentado ao imaginar um modelo desses branco com o teto azul. Ou azul com o teto branco. Vermelho, branco e azul: as cores da França. Seria legal vê-los assim.
Para entrar, é preciso se abaixar um pouco. Quem está acostumado com os C4, Pallas e Picasso, com seu enorme espaço, assoalho alto e bancos largos, vai precisar de uma leve adaptação ao DS3. Os bancos são baixos, o carro é baixo e o painel é da medida certa para caber por detrás do volante com seus belos mostradores. Os bancos me acomodaram perfeitamente com meus 1,75 m e 83 kg (começo o regime na segunda-feira, JURO!!!) e a posição de dirigir pode ser amplamente regulada com o ajuste dos bancos e da coluna de direção. O rádio está longe do alcance dos olhos, mas os principais comandos estão bem próximos ao volante e o mostrador fica no meio do painel, no topo do console central.
O volante tem um bom diâmetro e o toque do couro não apresenta rebarbas. O ar-condicionado é digital e o desenho completo do painel agrada aos olhos e aos dedos, pois a textura é muito boa. Uma faixa imitando fibra de carbono atravessa de fora-a-fora o painel, evocando esportividade. É bonito por fora e bastante aprazível por fora.
Depois de tentar subornar o garçon para conseguir algumas cervejas geladas e ser alvo de olhares espantados ao
ser xingado em voz alta em pleno salão, só me restou olhar o DS3 e criar coragem de perguntar ao vendedor: Vocês já tem idéia do preço?
Para meu espanto a resposta foi: "a versão única está sendo comercializada com preço de
R$ 89.000,00. Com bancos em couro preço é de
R$ 92.000,00"
Engoli a seco, concordando e fazendo cara de quem não teria $$$ para comprar e só perguntou por curiosidade. O valor é R$ 10.000,00 a mais do que o publicado pela própria marca, mas ainda assim posiciona o DS3 abaixo da tabela de preços do Mini e do Audi A1. Realmente, o carro é muito bonito, anda bem pelo pouco que pude avaliar, tem sua esportividade bem demonstrada e apresenta um equilíbrio de motorização/visual bem bacana. O DS3 mostrou um bom acerto entre suspensão e motor, demonstrando boa coerência entre eles, mas confesso que ao me deparar com carros deste tipo, só consigo pensar em como ele seria com uma turbina maior, rodas mais largas, suspensão mais baixa... é o tipo de carro que clama por upgrades!
Caso você esteja interessado em saber sobre o consumo desse carro, junte-se ao time. A fábrica não divulgou os números de consumo, mas não devem ser baixos a medir pelo histórico dos motores 1.6 16v da PSA. "Porra, Rafa! Mas é um motor completamente diferente!" - Você pode até argumentar, mas não se esqueça que uma micro-turbina que trabalha quase a pleno e 100% do tempo torna tudo mais divertido e caro. Não tem segredo, caro mamífero: cavalo anda, cavalo come!
Não faço parte do público-alvo deste tipo de veículo, mas queria ser. Não o tipo do cara que compra um carro para mostrar para os outros, nem do tipo que rasga dinheiro em um carro que deveria chegar custando pelo menos R$ 20.000,00 a menos (nosso mercado abusivo é o culpado por isso). Por ser um lançamento, talvez a própria Citroën esteja querendo "sentir" o mercado e pode ser que o preço caia um pouco, mas assustar o consumidor logo "de cara" já demonstrou ser uma péssima estratégia, mas ainda assim o DS3 mostra-se uma boa opção ante aos rivais que oferecem a mesma quantidade de equipamentos (ou menos) por um preço muito maior.
Abraços!