Por cerca de um mês tive a honra de hospedar em minha casa aquela que efetivamente mostrou-me o que é paixão automotiva. Num tempo de mudanças, correrias, atropelos, obrigações e tempo escasso, ofereci o espaço dedicado àquela que nunca me dedicou uma música. Eu sem carro e um amigo sem vaga. Nada seria mais sensato.
Lá ela ficou durante algumas semanas. O tempo que passava admirando-a não era nada contemplativo; eu não olhava com carinho aquela senhora de quase 40 anos trajando um curto vestido azul e olhos devassadores, e sim com o desejo ardente de um molecote de 13 anos à flor da puberdade. Nosso tempo de cortejos já havia passado, mas não por completo. Apesar do pouco contato que tivemos anteriormente, agora ela estava no quarto ao lado por alguns dias.
Sob o vestido azul providenciei dois cobertores macios para que não machucar sua pele lustrosa. Cuidei dela como se fosse minha e só não a massageei com cera por saber do ciúme que cada dono dedica a seus carros. Era como a esposa gostosa de um amigo, que sabe que é gostosa: você trata como homem para não perder a amizade, mas fita com os olhos aquele decote abusado quando ninguém está olhando. Existe respeito, mas olhar nunca arrancou pedaço (mas já ví arranacarem dentes).
Ligava-a a cada 3 dias impreterivelmente! Organizei minha rotina de modo que meus horários permitissem duas vezes por semana dedicar-lhe trinta minutinhos para que ela respirasse, vez ou outra desse uma voltinha no quintal e umas aceleradinhas para aguçar a marcha lenta também estavam em nosso encontro íntimo. O perfume da gasolina Podium exalado pelo escape eriçavam os pelos até mesmo daqueles mais desinteressados. Até minhas filhas ficaram apaixonadas por aquela doce moça de coração grande e traços delicadamente sedutores.
Então chega a notícia de sua partida: "Rafa, arranjei um lugar para ela e pro Tigra!". Seria no final de semana seguinte. Eu sabia que este momento chegaria mas, juro, não esperava que fosse tão cedo. Era como se aquele reles prazer fugaz me fosse tragado, mas eu nada poderia fazer. Pior: fui apunhalado e depois abraçado. "Você a leva pra mim! Considere como uma forma de agradecimento!"
O Bruno me ensinou que mineiro (apesar de não ser, trago dessa terra as minhas raízes) não nega agrados. Desde então deixei de ser imbecil e passei a aceitar mimos sem tolas cerimônias embebidas em falsos encabulamentos. Aquele dia que seria uma despedida, tornara-se um dia esperado. Por mais que ela fosse embora, eu sabia que aquilo iria acontecer cedo ou tarde, mas agora seria eu a guiá-la por uma distância considerável!
No Domingo a noite, colocamos ela pra funcionar. Por mais que ela seja a gasolina, por respeito às Webers a deixamos esquentar e neste interim ficamos de papo. Ganhei do amigo uma miniatura estilizada de um Herbie que deixou minha ansiedade um pouco mais controlada, mas o que eu queria ainda ronronava a parcos 1.500 Rpm na garagem.
A miniatura estilizada já está sobre o armário do trabalho e a cada dia me relembra de prazeres, obrigações, projetos, amizades e sentimentos escondidos. Melodramático, mas enfrentando fantasmas a batalha diária chega ao final com um suculento sabor de vitória!
"Vamos lá?!" - ele me disse. O que ouvi foi um melódico "deleite-se". O caminho eu já fazia idéia. Pegaríamos longas retas, limite de velocidade alto, curvas de fácil contorno e uma escolta atenta, mas que em momento algum me tolheu. A primeira curta logo acabava e pedia uma segunda vigorosamente disposta a embalar a esguia carroceria. A direção levemente dura por conta das grandes rodas de 15" e pneus largos mostrava-se extremamente dócil, direta e sensível, exigindo atenção e cuidado. A terceira urrava com gosto e deliciava os ouvidos com um estalido sedutor no escape quando acima dos 4.000 rpm. A quarta marcha abusou um pouco da minha paciência em reduções, mas foi nela que senti o enorme prazer de chegar aos 100 km/h em um carro que estava com as amarras presas havia algum tempo. O dono não é conservador na tocada, mas lembro-os que ela estava parada há algum tempo. A quinta é infinita e só a engatei em alguns momentos, pois o barulho do motor 2.000 cm³ com cabeçote de oito válvulas em alumínio aliado à quarta marcha deixavam aquela senhorita mais esperta e faceira.
Foram cerca de 20 km de conversas, olhares, sorrisos e um leve orgasmo que tornaram aquela noite de domingo inesquecível. "Gozar com o pau dos outros" é uma porcaria, mas a verdade é que eventualemente faz até bem à um coração cansado e ébrio. Carros não possuem sentimentos, mas ensinam-nos a tê-los em demasia!
Obrigado por tudo, amigo!
Lá ela ficou durante algumas semanas. O tempo que passava admirando-a não era nada contemplativo; eu não olhava com carinho aquela senhora de quase 40 anos trajando um curto vestido azul e olhos devassadores, e sim com o desejo ardente de um molecote de 13 anos à flor da puberdade. Nosso tempo de cortejos já havia passado, mas não por completo. Apesar do pouco contato que tivemos anteriormente, agora ela estava no quarto ao lado por alguns dias.
Sob o vestido azul providenciei dois cobertores macios para que não machucar sua pele lustrosa. Cuidei dela como se fosse minha e só não a massageei com cera por saber do ciúme que cada dono dedica a seus carros. Era como a esposa gostosa de um amigo, que sabe que é gostosa: você trata como homem para não perder a amizade, mas fita com os olhos aquele decote abusado quando ninguém está olhando. Existe respeito, mas olhar nunca arrancou pedaço (mas já ví arranacarem dentes).
Ligava-a a cada 3 dias impreterivelmente! Organizei minha rotina de modo que meus horários permitissem duas vezes por semana dedicar-lhe trinta minutinhos para que ela respirasse, vez ou outra desse uma voltinha no quintal e umas aceleradinhas para aguçar a marcha lenta também estavam em nosso encontro íntimo. O perfume da gasolina Podium exalado pelo escape eriçavam os pelos até mesmo daqueles mais desinteressados. Até minhas filhas ficaram apaixonadas por aquela doce moça de coração grande e traços delicadamente sedutores.
Então chega a notícia de sua partida: "Rafa, arranjei um lugar para ela e pro Tigra!". Seria no final de semana seguinte. Eu sabia que este momento chegaria mas, juro, não esperava que fosse tão cedo. Era como se aquele reles prazer fugaz me fosse tragado, mas eu nada poderia fazer. Pior: fui apunhalado e depois abraçado. "Você a leva pra mim! Considere como uma forma de agradecimento!"
O Bruno me ensinou que mineiro (apesar de não ser, trago dessa terra as minhas raízes) não nega agrados. Desde então deixei de ser imbecil e passei a aceitar mimos sem tolas cerimônias embebidas em falsos encabulamentos. Aquele dia que seria uma despedida, tornara-se um dia esperado. Por mais que ela fosse embora, eu sabia que aquilo iria acontecer cedo ou tarde, mas agora seria eu a guiá-la por uma distância considerável!
No Domingo a noite, colocamos ela pra funcionar. Por mais que ela seja a gasolina, por respeito às Webers a deixamos esquentar e neste interim ficamos de papo. Ganhei do amigo uma miniatura estilizada de um Herbie que deixou minha ansiedade um pouco mais controlada, mas o que eu queria ainda ronronava a parcos 1.500 Rpm na garagem.
A miniatura estilizada já está sobre o armário do trabalho e a cada dia me relembra de prazeres, obrigações, projetos, amizades e sentimentos escondidos. Melodramático, mas enfrentando fantasmas a batalha diária chega ao final com um suculento sabor de vitória!
"Vamos lá?!" - ele me disse. O que ouvi foi um melódico "deleite-se". O caminho eu já fazia idéia. Pegaríamos longas retas, limite de velocidade alto, curvas de fácil contorno e uma escolta atenta, mas que em momento algum me tolheu. A primeira curta logo acabava e pedia uma segunda vigorosamente disposta a embalar a esguia carroceria. A direção levemente dura por conta das grandes rodas de 15" e pneus largos mostrava-se extremamente dócil, direta e sensível, exigindo atenção e cuidado. A terceira urrava com gosto e deliciava os ouvidos com um estalido sedutor no escape quando acima dos 4.000 rpm. A quarta marcha abusou um pouco da minha paciência em reduções, mas foi nela que senti o enorme prazer de chegar aos 100 km/h em um carro que estava com as amarras presas havia algum tempo. O dono não é conservador na tocada, mas lembro-os que ela estava parada há algum tempo. A quinta é infinita e só a engatei em alguns momentos, pois o barulho do motor 2.000 cm³ com cabeçote de oito válvulas em alumínio aliado à quarta marcha deixavam aquela senhorita mais esperta e faceira.
Foram cerca de 20 km de conversas, olhares, sorrisos e um leve orgasmo que tornaram aquela noite de domingo inesquecível. "Gozar com o pau dos outros" é uma porcaria, mas a verdade é que eventualemente faz até bem à um coração cansado e ébrio. Carros não possuem sentimentos, mas ensinam-nos a tê-los em demasia!
Obrigado por tudo, amigo!
Vc escreve bem demais!!!
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