Acordei bem cedo naquele dia. O despertador tocou e mudo levantei. Desliguei o alvoroço para que dormentes não fossem perturbados. Dali a algumas horas, outro despertador as acordaria. Eu não queria incomodá-las com meus problemas e minhas preocupações. Minhas tormentas que só eu carregava dentro de garrafas plasticas estavam tão revoltas que nem mesmo a quietude de mais cinco minutinhos de soneca saciariam. Levantei.
Confesso ter pensado em desistir. Abri o registro e água tocava a pele como aquele carinho tão esperado que ficou apenas na espera. A noite passada eu tentei contar o que seria, pois o que faria já estava certo. Ainda assim, confesso, pensei em desistir e isso seria impróprio, improvável, profano, desrespeitoso e desumano com o nobre amigo que tanto apoio me dava. Mesmo que o sono delas bastasse e a discussão reiniciasse eu não poderia verter. Lavei o corpo com lágrimas e enxuguei com o vento.
Eram cerca de 06:00 da manhã e meu guru acabava de me deixar no aeroporto. Com sábias palavras, certo de meus passos, ainda questionou: "Vai mesmo?"
Não havia retorno. Era orgulho demais para respeito de menos. Parte dela, parte minha e um pouco de nós dois. Se fosse ela que o fizesse, talvez eu não aceitaria, mas de mente perturbada, olhos inchados e coração partido, parti naquela última chamada, ainda considerando a remota possibilidade da desistência e da perda de uma nobre amizade. Parti.
No celular mensagens chegavam sem parar. Eu, receoso, não abri o comunicador para não ser visto e nem mesmo ser tragado para aquele hábito que sempre nos consumiu. Eu queria paz, buscava paz, precisava da paz que ali, naqueles últimos dias eu não tinha, mas era lá onde eu queria encontrar mesmo tendo que me ausentar. Revolta, raiva, decepção, denegação, ódio e desilusão era tudo o que se ouvia, até que alguém sensato interviu. Era preciso desligar os aparelhos celulares. Amém.
Quis atuar como o mocinho desesperado que, ao notar a burrice cometida com a mocinha do filme de Sessão da Tarde, pede para parem o avião e volta correndo para os braços da amada com ela amando-o mais do que antes de todos os dias de suas vidas, mas isso não iria acontecer. Não pelo filme, não pela cena, não pelo amor, mas sabia que não seria assim. Naquela semana foram inúmeras tentativas, mas apenas o vazio é que estava lá. Eu tinha que ter paz.
Ambientando, Celso acabara de adquiri um dos carros que mais desejava desde que passou a dirigir. Ele mora em Sinop/MT e o carro estava a venda em Curitiba/PR. A distância era grande, mas não para um sonho realizado. Ele estava lá há três dias organizando documentos para concluir a transferência do veículo, que iria para Sinop de caminhão-cegonha e ele voltaria de avião, com escala em Brasília. Combinamos de tomar umas cervejas no curto período em que estaria de passagem pela minha terra, mas no desenrolar de tudo isso a ideia de uma pequena aventura foi alimentada. Após uma noite tensa e cheia de ignorâncias, comprei a passagem no dia seguinte após incentivo do amigo e financiamento do cartão de crédito. Levaríamos o carro rodando, mas não conhecíamos a estrada e nem mesmo o carro. A gente se vira.
O plano era simples e certeiro. Vôo direto para Curitiba/PR, entrar no carro e viajar mais de 1.900 km em apenas dois dias de viagem, com hora marcada para embarcar no dia seguinte e voltar para casa. O único tempo de frio em terras paranaenses foi para receber uma encomenda que outro grande amigo se prontificou a entregar em mãos (obrigadasso, Rado!) e com esta encomenda pude registrar os momento mais marcantes e abstratos desta redação.
Não tínhamos tempo a perder. Rapidamente entramos no carro e pegamos a estrada. Não, não houve tempo sequer para tomar água em Curitiba ou mesmo aproveitar do frio cotidiano do local. Tínhamos muito chão para percorrer. Meu contato com Celso sempre foi por meio da internet. Brevemente nos encontramos duas ou três vezes aqui em Brasília com ele sempre de passagem. Conversas rápidas, cervejas geladas e várias gargalhadas sempre foram o tom dessas reuniões infundadas. Haveriam mais se o tempo fosse maior, o compromisso menor e as escalas mais demoradas. Vivemos para nos arrepender do tempo perdido.
Teríamos cerca de 48 horas ininterruptas de convivência em um ambiente pequeno. Começamos falando de amenidades, carros, paixões, carros, família, carros, comportamento, carros, modismos, carros... e parecia que ambos evitávamos falar de algo que nos reuniu: relacionamentos. Parecíamos duas matracas e sempre um complementava o assunto do outro, já emendando uma prosa nova, com gargalhadas soltas e num clima bacana para uma road trip. Não sou muito de falar, mas estávamos numa sintonia legal para não deixar o outro entediado ou chateado, afinal, a viagem estava apenas começando. Traçamos uma boa rota, poucas paradas e um acordo selado: Cansou? Passa o volante.
Celso parecia uma criança com o brinquedo novo que ninguém da rua tem, mas a molecada deseja. Dirigia olhando para os detalhes do carro, buscando ambientar-se melhor com os comandos, sentindo as reações do carro, testando até onde iam certos limites e eu lá, apenas notando sem querer ser invasivo ou atrapalhar a curtição da criança. Em alguns momentos era hilário e eu ria sem que ele percebesse. O garoto não queria largar o brinquedo. Almoçamos, lanchamos e nada dele passar o volante. Eram mais de seis horas de volante e ele ainda empolgado. Minha preocupação é que começava a anoitecer e até para os mais experientes, este horário é complicado. "Na próxima parada eu pego o carro" - disse com voz impositiva e ele reconheceu numa boa.
Paramos lá pelas 19:00 já em São Paulo e depois de lavar o rosto, veio o reconhecimento: Celso estava cansado. Lanchamos, abastecemos, alongamos e seguimos viagem comigo ao volante. Ele aproveitou para ligar para os familiares, responder as mensagens, descansar os braços e as pernas na tensão de estar ao volante e passamos a combinar o local de pouso. Disse a ele que eu estava apto a dirigir por muito tempo, pois estava completamente descansado e, caso sentisse algum sinal de fadiga, pararíamos. Numa das mensagens trocadas, o pai de Celso "recomendou" que dormíssemos um pouco para continuar no dia seguinte. Para bom leitor, as aspas bastam mais que palavras. Sábias palavras, aliás.
Neste meio tempo, Celso confessou que seus pais estavam preocupados com algumas coisas envolvendo esta viagem. Uma delas era a distância, pois ele nunca havia dirigido de tão longe apesar de ter boa experiência em trechos próximos à sua cidade. A outra era a companhia, no caso eu. Era, no mínimo estranho um rapaz ser convidado a levar seu carro novo para casa por um desconhecido (para os pais). Celso deu a entender que seus pais pensaram que eu poderia ser um estuprador, um ladrão ou algo do tipo. Ele seria minha puta, mas logo descartamos qualquer tipo de possibilidade disso acontecer nesta ou em quaisquer umas de nossas encarnações posteriores. Rimos muito.
Logo revelei uma preocupação de minha mãe, que me mandou algumas mensagens pedindo para que eu tivesse cuidado com o conteúdo da minha mochila, pois poderiam colocar algo nela que me incriminasse de alguma maneira. Pediu que eu não aceitasse levar nada que "alguém" me pedisse. Este "alguém" a quem ela se referia era o Celso. Era, no mínimo, estranho alguém chamar outra pessoa para viajar por dois dias dirigindo para ir deixar um carro. Mato Grosso tem várias divisas e é reconhecidamente um ponto de distribuição de drogas para o país, caso não saibam. Rimos mais ainda e esta história serviu para o título desta postagem.
A puta e o traficante
Paramos lá pelas 23:30 em uma cidadezinha dormitório. Alguns hotéis, alguns postos e poucos comércios. Combinamos de sairmos às 03:00 para aproveitar o que restava de boas estradas em um período onde não teríamos muito trânsito de caminhões. Dormimos um pouco e às 03:00 em ponto o carro estava ligado, abastecido enquanto eu pagava a hospedagem. Estávamos bem sincronizados. Andamos cerca de 20 km e então agradeci a ordem dada pelo pai do Celso. Aquele descanso foi providencial e necessário. Estávamos revigorados e imersos em uma neblina tão densa que mal conseguíamos enxergar onde o facho dos faróis alcançava. Com o amanhecer a neblina foi se dissipando, mas rodamos cerca de duas horas em meio à fumaça. A recompensa veio na forma de um amanhecer majestoso.
Amanhecer na estrada tem suas recompensas
Celso dirigiu desde quando acordamos. A regra ainda prevalecia, mas ele ainda estava entusiasmado com o carro. Eu não queria me intrometer, mas redobrei a atenção e passei a envolvê-lo mais nas conversas para que sua atenção fosse sempre estimulada. Lanchamos, abastecemos, almoçamos, abastecemos, lanchamos e lá pelas 16:00 (ele estava dirigindo desde as 03:00 da manhã) uma leve saída da pista para o acostamento me fez mandá-lo parar o carro. Ainda havia muito chão pela frente e eu queria percorre-los! Trocamos de assento e mais uma vez ele admitiu que o cansaço havia batido. Como eu estava descansado, disse que levaria o carro até a chegada em Sinop, mas precisaria que ele me orientasse em alguns pontos, pois era o estado dele e alguns macetes o GPS não indicaria. Foram trechos de duplicação, mão única, motoristas nervosos e muitos, muitos caminhões. Estressante, mas ainda assim o papo continuava descontraído e divertido. Apesar da aparente tranquilidade o horário nos obrigava a evitar paradas demasiadas. Minha passagem de volta para Brasília/DF estava marcada para 21:45 (horário local. Em Sinop/MT os relógios são atrasados em uma hora em relação ao horário de Brasília) e o cronograma era apertado.
Chegamos em Sinop no laço! Ainda assim houve tempo para comermos o melhor cachorro-quente que já experimentei. Mais algumas confidencialidades, experiências e dicas foram trocadas. Tomamos umas duas cervejas e fomos para o aeroporto. A penúltima chamada havia sido anunciada e logo veio o pedido de embarque. NO LAÇO!!! hehehehe
Nos xingamos, abraçamos, combinamos outras loucuras como esta e voltei.
Ao chegar, o verbo se fez. Não houveram abraços, nem beijos, nem sentimentos acolhedores. A paz não veio naquele momento, nem depois. Aliviei a tormenta e coloquei os pensamentos no lugar com a ajuda de um grande amigo. A paz? Continuo procurando, mas hoje aprendi a lidar de um jeito diferente com toda a agonia. Sempre receitei a todos os amigos a companhia de um motor em noites agoniantes e foi preciso uma alma caridosa pra me mostrar como é reconfortante e sábio os conselhos de um motor.
Obrigado pelas lembranças, amigo! Do lado de cá sabes que conseguiu um irmão.
Que as dificuldades, distâncias, imaturidades, broncas e brigas que a vida lhe apresentar, você saiba filtrar e aproveitar o que de melhor ela tem.
Grande abraço!
Confesso ter pensado em desistir. Abri o registro e água tocava a pele como aquele carinho tão esperado que ficou apenas na espera. A noite passada eu tentei contar o que seria, pois o que faria já estava certo. Ainda assim, confesso, pensei em desistir e isso seria impróprio, improvável, profano, desrespeitoso e desumano com o nobre amigo que tanto apoio me dava. Mesmo que o sono delas bastasse e a discussão reiniciasse eu não poderia verter. Lavei o corpo com lágrimas e enxuguei com o vento.
Eram cerca de 06:00 da manhã e meu guru acabava de me deixar no aeroporto. Com sábias palavras, certo de meus passos, ainda questionou: "Vai mesmo?"
Não havia retorno. Era orgulho demais para respeito de menos. Parte dela, parte minha e um pouco de nós dois. Se fosse ela que o fizesse, talvez eu não aceitaria, mas de mente perturbada, olhos inchados e coração partido, parti naquela última chamada, ainda considerando a remota possibilidade da desistência e da perda de uma nobre amizade. Parti.
No celular mensagens chegavam sem parar. Eu, receoso, não abri o comunicador para não ser visto e nem mesmo ser tragado para aquele hábito que sempre nos consumiu. Eu queria paz, buscava paz, precisava da paz que ali, naqueles últimos dias eu não tinha, mas era lá onde eu queria encontrar mesmo tendo que me ausentar. Revolta, raiva, decepção, denegação, ódio e desilusão era tudo o que se ouvia, até que alguém sensato interviu. Era preciso desligar os aparelhos celulares. Amém.
Quis atuar como o mocinho desesperado que, ao notar a burrice cometida com a mocinha do filme de Sessão da Tarde, pede para parem o avião e volta correndo para os braços da amada com ela amando-o mais do que antes de todos os dias de suas vidas, mas isso não iria acontecer. Não pelo filme, não pela cena, não pelo amor, mas sabia que não seria assim. Naquela semana foram inúmeras tentativas, mas apenas o vazio é que estava lá. Eu tinha que ter paz.
Ambientando, Celso acabara de adquiri um dos carros que mais desejava desde que passou a dirigir. Ele mora em Sinop/MT e o carro estava a venda em Curitiba/PR. A distância era grande, mas não para um sonho realizado. Ele estava lá há três dias organizando documentos para concluir a transferência do veículo, que iria para Sinop de caminhão-cegonha e ele voltaria de avião, com escala em Brasília. Combinamos de tomar umas cervejas no curto período em que estaria de passagem pela minha terra, mas no desenrolar de tudo isso a ideia de uma pequena aventura foi alimentada. Após uma noite tensa e cheia de ignorâncias, comprei a passagem no dia seguinte após incentivo do amigo e financiamento do cartão de crédito. Levaríamos o carro rodando, mas não conhecíamos a estrada e nem mesmo o carro. A gente se vira.
O plano era simples e certeiro. Vôo direto para Curitiba/PR, entrar no carro e viajar mais de 1.900 km em apenas dois dias de viagem, com hora marcada para embarcar no dia seguinte e voltar para casa. O único tempo de frio em terras paranaenses foi para receber uma encomenda que outro grande amigo se prontificou a entregar em mãos (obrigadasso, Rado!) e com esta encomenda pude registrar os momento mais marcantes e abstratos desta redação.
Não tínhamos tempo a perder. Rapidamente entramos no carro e pegamos a estrada. Não, não houve tempo sequer para tomar água em Curitiba ou mesmo aproveitar do frio cotidiano do local. Tínhamos muito chão para percorrer. Meu contato com Celso sempre foi por meio da internet. Brevemente nos encontramos duas ou três vezes aqui em Brasília com ele sempre de passagem. Conversas rápidas, cervejas geladas e várias gargalhadas sempre foram o tom dessas reuniões infundadas. Haveriam mais se o tempo fosse maior, o compromisso menor e as escalas mais demoradas. Vivemos para nos arrepender do tempo perdido.
Teríamos cerca de 48 horas ininterruptas de convivência em um ambiente pequeno. Começamos falando de amenidades, carros, paixões, carros, família, carros, comportamento, carros, modismos, carros... e parecia que ambos evitávamos falar de algo que nos reuniu: relacionamentos. Parecíamos duas matracas e sempre um complementava o assunto do outro, já emendando uma prosa nova, com gargalhadas soltas e num clima bacana para uma road trip. Não sou muito de falar, mas estávamos numa sintonia legal para não deixar o outro entediado ou chateado, afinal, a viagem estava apenas começando. Traçamos uma boa rota, poucas paradas e um acordo selado: Cansou? Passa o volante.
Celso parecia uma criança com o brinquedo novo que ninguém da rua tem, mas a molecada deseja. Dirigia olhando para os detalhes do carro, buscando ambientar-se melhor com os comandos, sentindo as reações do carro, testando até onde iam certos limites e eu lá, apenas notando sem querer ser invasivo ou atrapalhar a curtição da criança. Em alguns momentos era hilário e eu ria sem que ele percebesse. O garoto não queria largar o brinquedo. Almoçamos, lanchamos e nada dele passar o volante. Eram mais de seis horas de volante e ele ainda empolgado. Minha preocupação é que começava a anoitecer e até para os mais experientes, este horário é complicado. "Na próxima parada eu pego o carro" - disse com voz impositiva e ele reconheceu numa boa.
Paramos lá pelas 19:00 já em São Paulo e depois de lavar o rosto, veio o reconhecimento: Celso estava cansado. Lanchamos, abastecemos, alongamos e seguimos viagem comigo ao volante. Ele aproveitou para ligar para os familiares, responder as mensagens, descansar os braços e as pernas na tensão de estar ao volante e passamos a combinar o local de pouso. Disse a ele que eu estava apto a dirigir por muito tempo, pois estava completamente descansado e, caso sentisse algum sinal de fadiga, pararíamos. Numa das mensagens trocadas, o pai de Celso "recomendou" que dormíssemos um pouco para continuar no dia seguinte. Para bom leitor, as aspas bastam mais que palavras. Sábias palavras, aliás.
Neste meio tempo, Celso confessou que seus pais estavam preocupados com algumas coisas envolvendo esta viagem. Uma delas era a distância, pois ele nunca havia dirigido de tão longe apesar de ter boa experiência em trechos próximos à sua cidade. A outra era a companhia, no caso eu. Era, no mínimo estranho um rapaz ser convidado a levar seu carro novo para casa por um desconhecido (para os pais). Celso deu a entender que seus pais pensaram que eu poderia ser um estuprador, um ladrão ou algo do tipo. Ele seria minha puta, mas logo descartamos qualquer tipo de possibilidade disso acontecer nesta ou em quaisquer umas de nossas encarnações posteriores. Rimos muito.
Logo revelei uma preocupação de minha mãe, que me mandou algumas mensagens pedindo para que eu tivesse cuidado com o conteúdo da minha mochila, pois poderiam colocar algo nela que me incriminasse de alguma maneira. Pediu que eu não aceitasse levar nada que "alguém" me pedisse. Este "alguém" a quem ela se referia era o Celso. Era, no mínimo, estranho alguém chamar outra pessoa para viajar por dois dias dirigindo para ir deixar um carro. Mato Grosso tem várias divisas e é reconhecidamente um ponto de distribuição de drogas para o país, caso não saibam. Rimos mais ainda e esta história serviu para o título desta postagem.
A puta e o traficante
Paramos lá pelas 23:30 em uma cidadezinha dormitório. Alguns hotéis, alguns postos e poucos comércios. Combinamos de sairmos às 03:00 para aproveitar o que restava de boas estradas em um período onde não teríamos muito trânsito de caminhões. Dormimos um pouco e às 03:00 em ponto o carro estava ligado, abastecido enquanto eu pagava a hospedagem. Estávamos bem sincronizados. Andamos cerca de 20 km e então agradeci a ordem dada pelo pai do Celso. Aquele descanso foi providencial e necessário. Estávamos revigorados e imersos em uma neblina tão densa que mal conseguíamos enxergar onde o facho dos faróis alcançava. Com o amanhecer a neblina foi se dissipando, mas rodamos cerca de duas horas em meio à fumaça. A recompensa veio na forma de um amanhecer majestoso.
Amanhecer na estrada tem suas recompensas
Celso dirigiu desde quando acordamos. A regra ainda prevalecia, mas ele ainda estava entusiasmado com o carro. Eu não queria me intrometer, mas redobrei a atenção e passei a envolvê-lo mais nas conversas para que sua atenção fosse sempre estimulada. Lanchamos, abastecemos, almoçamos, abastecemos, lanchamos e lá pelas 16:00 (ele estava dirigindo desde as 03:00 da manhã) uma leve saída da pista para o acostamento me fez mandá-lo parar o carro. Ainda havia muito chão pela frente e eu queria percorre-los! Trocamos de assento e mais uma vez ele admitiu que o cansaço havia batido. Como eu estava descansado, disse que levaria o carro até a chegada em Sinop, mas precisaria que ele me orientasse em alguns pontos, pois era o estado dele e alguns macetes o GPS não indicaria. Foram trechos de duplicação, mão única, motoristas nervosos e muitos, muitos caminhões. Estressante, mas ainda assim o papo continuava descontraído e divertido. Apesar da aparente tranquilidade o horário nos obrigava a evitar paradas demasiadas. Minha passagem de volta para Brasília/DF estava marcada para 21:45 (horário local. Em Sinop/MT os relógios são atrasados em uma hora em relação ao horário de Brasília) e o cronograma era apertado.
Chegamos em Sinop no laço! Ainda assim houve tempo para comermos o melhor cachorro-quente que já experimentei. Mais algumas confidencialidades, experiências e dicas foram trocadas. Tomamos umas duas cervejas e fomos para o aeroporto. A penúltima chamada havia sido anunciada e logo veio o pedido de embarque. NO LAÇO!!! hehehehe
Nos xingamos, abraçamos, combinamos outras loucuras como esta e voltei.
Ao chegar, o verbo se fez. Não houveram abraços, nem beijos, nem sentimentos acolhedores. A paz não veio naquele momento, nem depois. Aliviei a tormenta e coloquei os pensamentos no lugar com a ajuda de um grande amigo. A paz? Continuo procurando, mas hoje aprendi a lidar de um jeito diferente com toda a agonia. Sempre receitei a todos os amigos a companhia de um motor em noites agoniantes e foi preciso uma alma caridosa pra me mostrar como é reconfortante e sábio os conselhos de um motor.
Obrigado pelas lembranças, amigo! Do lado de cá sabes que conseguiu um irmão.
Que as dificuldades, distâncias, imaturidades, broncas e brigas que a vida lhe apresentar, você saiba filtrar e aproveitar o que de melhor ela tem.
Grande abraço!
Muito legal esse relato!! Parabéns aos dois pela disciplina, planejamento, amizade e compromisso dispensados nessa road trip!
ResponderExcluirSó entende quem lê o texto! Ri muitoo!! :D
Abraços! :p
Muito bom!! Adoro essas viagens... Fiz 3 nos últimos 2 anos... 1.300km... A primeira com meu irmão para trazer um Peugeot 205, a segunda sozinho, com um Swift GTI e a última com minha esposa e um R19 16V.
ResponderExcluirFala Rafa,
ResponderExcluirExcelente texto, ótimas fotos e grande aventura. Só ficou devendo as fotos do bólido que vcs foram buscar lá em Curitiba, afinal foi por causa dele que rolou toda essa trip.
Abs,
Roberto.
Qual foi a máquina RAfa??? Curiosidade mata nóis!!
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