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: : Fiat Uno 2.1 16V Turbo Carbon : :


Alguns objetos marcam nossas vidas de formas inesquecíveis. Carros tem em sua concepção esta capacidade de uma maneira muito mais exagerada, pois com eles partilhamos bons e maus momentos. Alguns são descartados e vendidos tão logo cumpram seu papel. Outros permanecem na família como lembranças boas e boas recordações, verdadeiros membros.

Quando a mãe de Daniel Silveira ganhou este Fiat Uno CS 84/85 de presente de seu marido o carro não estava em perfeitas condições, mas foi capaz de despertar nela uma grande alegria por ser aquele seu primeiro carro. Foram mais de 20 anos de bons serviços prestados, passando por momentos de dificuldades financeiras e emocionais, mas o Uno nunca deixou de servir a esta família.




Quando a mãe de Daniel veio a falecer, ele decidiu que cuidaria melhor daquele carro. Modificá-lo sequer passava pela sua cabeça diante de tantos acontecimentos e dificuldades. Era certo que aquele Uno nunca seria abandonado.

Após o trauma e a tristeza, reformar o carro tornou-se uma tarefa cansativa para o corpo, mas de alguma forma aliviava a mente de Daniel que passou a conhecer pessoas interessadas em ajudar em seu projeto de várias maneiras durante os finais de semana e tempos livres, a este chamou de amigos. Pizzas e refrigerantes sempre eram partilhados com graxa, óleo e gasolina na garagem de casa durante mais de oito anos, sem nunca pensar em desistir.




Foram mais de três funilarias, alguns abandonos do projeto por parte de empresas, profissionais inescrupulosos e muita dor de cabeça até que Daniel resolveu que sua garagem seria a melhor oficina de todas e o tempo seria seu maior aliado. Parou, respirou fundo, colocou as ideias em ordem e seguiu em frente. Com a carroceria jateada, com uma camada de primer e sem nenhuma peça instalada, ele resolveu que montaria o carro em casa até onde fosse possível, terceirizando o mínimo necessário. “Se é pra fazer besteira no meu carro, deixa que eu mesmo faço!” – disse ele várias vezes. Adesivou o carro com um tom de cinza militar para facilitar as lavagens e evitar as manchas no primer até que decidisse a cor final das peças.

O carro estava completamente desmontado e as pretensões de Daniel haviam mudado. Já se sabia que não era para ser um impecável Uno original, mas ele resolveu ousar um pouco mais. Trabalhando com a confecção de peças automotivas em fibra de carbono, aquele Uno serviria de show car de sua empresa, a Carbon55, e ostentaria peças deste leve material onde fosse possível. Além da beleza e da resistência, a leveza das peças ajudariam a reduzir o peso do carro, melhorando seu rendimento nas pistas.

Tampa da mala, capô, alargadores laterais e para lamas dianteiros foram confeccionados ao longo do tempo e representam cerca de 70% de peso bruto em cada peça, se comparado com as originais. A pretensão é que o carro seja completamente exposto com fibra de carbono, restando apenas o monobloco em aço. Logo, logo as portas, teto e quartos traseiros deverão ser substituídos por peças de fibra de carbono. É realmente muito mais leve e resistente.






Os vidros laterais foram substituídos por acrílico visando a redução de peso. Um raro par de lentes azuis para os retrovisores Metagal foram instalados para reduzir o ofuscamento e todo o conjunto de para choques, saias laterais, alargadores, grade dianteira e ótico é do mítico Uno Turbo com um toque de personalização dada por Daniel para que a nova configuração coubesse sem ferir as linhas originais do carro.





As portas não possuem forração anti-ruido, apenas a cobertura dos forros originais do Uno Turbo e o interior recebeu uma gaiola em aço inox de oito pontos de fixação amarrando o monobloco e as torres dianteiras e traseiras. Bancos em concha Lico, modelo Start mantém piloto e carona presos quando atados os cintos de segurança de quatro pontos da mesma marca. Um volante Momo Daytona3 é que guia a direção e é através dele que se observa o painel Stack modelo ST8100 montado sobre uma placa de fibra de carbono. Uma alavanca de câmbio em alumínio com engate rápido controla as marchas e um regulador de pressão instalado no local do rádio é quem distribui melhor a o fluido de freio para a dianteira e traseira. Ao seu lado uma chave geral previne contra sustos indesejados e logo abaixo está instalada a central eletrônica FuelTech FT400 que auxilia o painel Stack no monitoramento dos dados do motor (pressão de água, óleo, combustível,, rotação, temperatura...). Um monitor de banda larga da FuelTech foi instalado ao lado do painel para facilitar a visualização.




Após contar com toda a expertise, amizade e experiência do preparador Phelipe Lima durante a realização do seu projeto Brava V6 (Revista Super Speed #94), Daniel confiou a ele a realização da montagem e acerto de seu brinquedo de pista. Ciente da importância deste projeto para a vida e a memória de seu amigo, Phelipe dedicou horas e dias a fio para que tudo ficasse da melhor maneira possível, sempre contando com os pitacos de Daniel para adequar potência e beleza ao conjunto. Utilizando um bloco 2.0 do Fiat Tempra, novos calços do motor foram confeccionados e o motor alinhado. Da Powertech vieram pistões (87 mm) e anéis forjados para reduzir ao máximo o risco de quebras. Bielas mais longas (152,4 mm) melhoraram a relação curso x diâmetro, que em conjunto com o virabrequim, volante do motor e demais partes móveis que permaneceram originais e foram cuidadosamente balanceados, tornaram a subida de giro rápida e macia. Com esta configuração o motor passou para 2.145 cc de deslocamento utilizando o cabeçote original de 16v devidamente assentado sobre uma junta de aço própria para utilização de pistões de87 mm confeccionada na oficina de Phelipe, a PH Motorsport. Para facilitar o acerto, um par de polias reguláveis da Belquip foi instalada.








Por trabalhar sempre em alta pressão, a bomba de óleo original do Fiat Tempra foi retrabalhada para segurar a pressão mesmo sob picos de 9,7 Bar. O radiador de óleo utilizado é o do Uno Turbo. O radiador de água agora é de alumínio com maior capacidade e possui caixa de expansão incorporada para evitar a utilização de bujão externo, o que comprometeria o visual pretendido para o cofre do motor. A captação de combustível é dada por meio da bomba interna original no tanque original. Esta abastece o surge tank de alumínio instalado no porta-malas, que por sua vez passa pelos filtros e abastece as duas bombas de combustível da Mercedes Benz. As linhas de combustível em cobre se unem no dosador esférico da Draft Racing que preenche a flauta em alumínio e abastece os bicos de 80 lbs/h. O visual é apaixonante!



O coletor de admissão é o original do Tempra 16v e recebe o ar através da pressurização de inox que vem do intercooler. O coletor de escape é obra da PH Motorsport e foi confeccionado em aço inox, desembocando em uma turbina Master Power R595 (.84/.58) regulada para parcos 0,72 Bar de pressão por meio de uma wastegate Tial modelo F38. O que sobra de pressão no sistema é expelido para a atmosfera por uma blow off Tial Q de 50mm. A ignição é dada por velas NGK Iridium BR9EG pulsadas por bobinas individuais Hitachi herdadas do Brava HGT com corte de giro programado para 7.600 Rpm. Daniel e Phelipe estimam que com esta configuração o carro esteja com cerca de 280 cv e uma pancada de torque. Por ainda estar em fase de acerto e este só ser possível em pista, o carro ainda não foi enviado para o dinamômetro para aferição, mas o relato do proprietário passa uma boa ideia de como é guiar o monstrinho: “Dirigibilidade de um kart, retomada e torque de um carro turbo muito forte, nenhuma tração e aderência! A expectativa é de que com 1,4 Bar de pressão este conjunto gere cerca de 360 cv, mas antes é preciso conseguir colocar os cavalos que já temos no chão da melhor forma”



A transmissão conta com platô de embreagem do Fiat Tempra acoplado a uma embreagem PRT de seis pastilhas cerâmicas com rolamento de Mille Fire. Um câmbio completo com relações de Tempra 16v vem sofrendo para transportar toda a potência e torque para as leves rodas Tracklite modelo Burn (4,9 kg cada roda) de medidas 7,0x15” montadas em pneus PZero Slick. Toda a suspensão dianteira e traseira foi transplantada de um Fiat Uno Turbo e utiliza buchas em poliuretano em todo o conjunto. Amortecedores com altura regulável da Fênix são utilizados na dianteira e os traseiros foram encurtados e recalibrados para utilização na pista. Os freios dianteiros completos são do Fiat Marea Turbo enquanto os traseiros são de Tempra Turbo. Acelerar é fácil e parar não é problema com este setup.






Nos próximos trackdays o Uno deve estrear um novo jogo de pneus slick de composto bem mais macio para ajudar na aderência em curvas e tração nas retas. A adequação do conjunto completo se faz necessária pois em algumas aceleradas após tangenciar curvas não é raro ver o Uno lixando pneus de terceira e quarta marchas ao longo das retas (as engrenagens sofrem absurdos!).
Agora é a parte divertida de todo o trabalho: acertar e andar. O pai de Daniel observa orgulhoso o empenho do filho em resgatar aquele que um dia foi uma linda lembrança de sua mãe e certamente, lá do céu, ela observa e despeja bênçãos sobre seu menino tão dedicado a nunca deixar sua memória apagar.

Matéria publicada originalmente na Revista SuperSpeed #106

3 comentários:

  1. Parabéns.
    Não consigo falar mais nada, nó na garganta por relembrar da história (acompanho desde 2011, quando li um post sobre o carro).

    Abraço

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  2. Alguém consegue o co tato dele ou da empresa dele? Quero fazer um orçamento desses para choques, capo e tampa traseira em carbono. meu contato brunoluizroza@hotmail.com

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  3. Sem palavras..
    carro ficou fantástico....parabens mano!!!! Todo esforço valew a pena...olha ai o resultado....caranga unica...perfeita...nos minimos detalhes!!!!fodástico esse uno!!!

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