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::A nossa primeira vez::

Foi como dar o primeiro passo da minha vida: Eu me senti inseguro, sem noção, amedrontado... mas sabia o que deveria fazer. Só tinha que torcer pra não fazer merda e nem estragar tudo.


Passei na oficina para deixar algumas peças e o mecânico me disse que havia mandado o carro para o lava-jato. Mandou dar uma geral completa pois estava nojento por baixo. O motor tinha uma capa de poeira e a carroceria estava bege! Me falou o preço acordado e perguntei:

- Posso ir buscar?
- Bom, pode, mas o carro está completamente desregulado e a frente tá alta pra poder subir na rampa.
- Sem problemas, mas está com algum segredinho?
- Nada. Busca lá, então.

Passei no escritório, deixei o Fiesta e avisei meu pai:

- Fica de olho! Daqui a pouco vou passar com o Fusca aqui na frete!

Ele me olhou com cara de bobo. Sabia a ansiedade que eu estava sentindo e pareceu estar bem feliz por isso. Ele apenas sorriu com o canto da boca e voltou para seus afazeres.

Me senti como a Alice percorrendo o caminho de tijolos dourados no País das Maravilhas uma criança indo buscar um saco de balinhas de caramelo na quitanda. Eu estava bem feliz.

Chegando lá, o carro estava tinindo! Limpa como há tempos eu não a via. Ela cortou o cabelo, se maquiou, estava depilada e lisinha... hummmm...

Entrei no carro me contorcendo e bastante desajeitado. O banco em sua última regulagem mal me acomodava, a alavanca de câmbio adiantada, o pára-brisa rente à minha testa, braços curvados a cerca de 110° e os pedais desregulados causavam-me ainda mais estranheza. Meus olhos correram pelo painel liso, sem botões, manchado e já desgastado pelo tempo. Coloquei a chave no contato e não girei. Lembrei-me de fechar os olhos, pisar na embreagem e respirar bem fundo. Respiramos juntos e... PEGOU DE PRIMEIRA! Ela soube como me acalmar.

Bateria nova, velas novas, reparo do carburador novo e alguma gasolina no tanque não me deixariam na mão. Busco a ré e não encaixo nenhuma marcha. Maldita hora que fui desmontar a alavanca sem saber como montar novamente, mas isso não seria hora de reclamar! Já se passaram mais de 15 anos desde a última vez que andei de Fusca e eu nunca tinha dirigido um. Podem se espantar! Eu faço matérias de carros há mais de 10 anos e nunca dirigi um Fusca (exceto pela medíocre vez em que trouxe a Gorete para casa sem interior e inventei de dar uma volta no jardim sentado em uma lata de ração).

Eu tremia e suava por conta do calor e da ansiedade. Parece uma coisa banal, mas era uma sensação nova, desconhecida, diferente e atormentadora. Eu não sabia como ela iria se comportar, os pedais estavam completamente desregulados e mais pareciam que estavam caidos. Os cursos longos me deixaram completamente perdido nas relações de acelerador/embreagem e a cada aliviada no pedal da esquerda, um soco. Pelo menos a embreagem não está patinando! Ela parecia saber o quanto eu sonhava com este momento e tratou de me acalmar.

Como as rodas são grandes e os pneus dianteiros ainda não são os definitivos, o ângulo de esterço não é grande. Na verdade, ele praticamente inexiste! Os pneus 215/45-17" instalados na dianteira raspam com força na parte interna das caixas de roda e chegaram a lascar a proteção do bate-pedra. Não faz mal. Tudo será tratado novamente, mas creio que pneus menores e mais baixos não resolverão, mas serão um paliativo. O mecânico cogitou colocar espaçadores para que as rodas não pegassem por dentro e eu logo tratei de vetar a idéia.


Tá massa, né?! É... muita massa! Bora lixar e tratar TUDO!

Foram pelo menos 5 vai-e-vem na tentativa de manobrar o Fusca e tirá-lo de lá. Acelera, esterça, pega, pára, vira, acelera, esterça, pega, pára, acelera... até que o carro apontou para a rampa. Outro soco da embreagem e já foi possível sentir a magia das mangas de eixo deslocadas cumprindo seu papel. Pegando uma ondulação foi possível sentir que o carro ficou macio o suficiente para não tornar-se impraticável, mas ainda serão montados novos amortecedores para amenizar o sacolejo dos equipamentos velhos e acabados que ainda estão instalados.

Em linha reta ela não me decepcionou e seu motor 1.500cc começou a dar bons indícios de que viveremos bons momentos juntos, mas ainda é cedo para falar. Foram apenas 200 metros até encostar na oficina e entregar as chaves.

Foi uma primeira vez bastante calma. Ela tinha mais experiência que eu e aceitou bem meus erros de menino afoito. Uma rapidinha, interrompida por uma ejaculação precoce, mas ela gostou... e eu também.

12 comentários:

  1. kkkk man adoro seus textos ;D

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  2. Cara, mais uma vez digo: Você foi abençoado com o dom da escrita. Sempre ao ler suas matérias tenho a sensação de estar junto com o ocorrido, sentindo as mesmas emoções, frustrações, entre outros tantos sentimentos comuns para quem ama carros.
    P-A-R-A-B-É-N-S. Saiba que agora que fosse infectado pelo vírus VW-AR, muitas emoções, muitas histórias, muitos causos irão fazer parte de sua vida. Muito boa sorte para esta nova etapa de sua vida, você e sua "companheira".
    Um abraço.
    Fabrizio Rosso
    Escuderia FloripaBoxer

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  3. Belo texto, descreve exatamente a sensação de andar pela primeira vez em um fusca!
    Fusca é fusca e pronto, eu tenho e sei como é boM!
    Parabéns e muito sucesso ai com a sua parceira!
    E vamo q vamo andar de fuka!!!
    Abraço!

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  4. Muito bom, Rafa. Parabéns pelo texto e pelo carro :)

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  5. show de bola viadinho.... bom que curtiu a rapidainha...

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  6. HAHHHAHAHHA este texto ficou foda Rafa... parabéns ai pelo primeiro rolé!

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  7. Fabrizio Rosso, obrigado por poupar-me dedos!

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  8. Ótimo texto e parabéns pela rapidinha! Fusca é foda, tive 3 e tenho saudades... hj estou de GTS, Branco também, e a última saída da oficina me rendeu um prazer enorme em dirigir.

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  9. Respostas
    1. Nenhum, só que não faz sentido encurtar o quadro para ter que usar espaçadores. Seria melhor ter ficado com o quadro original que é cerca de 3cm mais largo em cada lado.

      Creio que com pneus mais baixos e estreitos o problema se resolva.

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  10. Por essas e outras que dizem que quem sabe guiar um Fusca guia qualquer um outro carro, mas quem guia qualquer carro não conduz um Fusca rsrsrsrsr, é realmente algo especial uma volta abordo do besouro, parabéns pelo texto.

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